sábado, 13 de fevereiro de 2010

Parte 7. A historia de um imigrante brasileiro baiano na Europa. Anildo Motta

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Ao chegar a Lisboa já era de madrugada, foi uma viagem cansativa, como não havia a companhia da ansiedade e a curiosidade de conhecer um país e nem uma aventura nova pela frente, sentimos mais o retorno do que a ida. Pela manhã fui vender no Castelo de São Jorge, onde se encontrava o Patricy, ao mim ver de longe chegando soltou um sorriso de boas vindas, e feliz por eu ter ido conhecer o país dele, e estava curioso para saber a minha opinião. Evidente que era as melhores possíveis, Paris mim fez sentir outro, sentia que tinha tido um desenvolvimento a nível profissional muito bom ao examinar todas aquelas obras de arte, estava constantemente desenvolvendo ideias referente ao meu trabalho e procurando entender as técnicas de claro e escuro utilizadas pelos grandes artistas, o jogo de luzes por eles utilizados e sem contar a enorme magia transmitida pelo Loure.
Quando cheguei ao lado dele o cumprimentei com um sorridente bom dia, coloquei o meu material ao lado dele, e ele exclamou, antes de começar o trabalho vamos tomar um copo, quero saber das novidades. Contei-lhe sobre a extraordinária estação que era a Montparnasse e a noite que passei lá, deixando de lado a ideia de ir para uma pensão ou hotel, falei do encontro com o maluco do Bruno, que mim convenceu de comprar um saco cama e ir dormir para a estação, e sem deixar de lado evidentemente a loucura que era o Louvre, e toda Paris, a Eiffel, a MontMartre, contei-lhe de ter sido apanhado pela policia e não ter conseguido ficar nem uma hora antes que isso acontecesse, ele rio muito e disse que isso já era esperado, já que há uma grande máfia que controla os negócios na Montmartre, e chegam a negociar autorizações já que podem ser transferidas de um artista para outro numa espécie de repasse de negócio, e que foram eles os artistas, que chamaram a policia para mim, isso eu já desconfiava disse para ele.

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Mais tirando esse pequeno infortúnio, as coisas correram extremamente bem, mim perguntou se tive algum problema com o idioma e disse que não. O Patricy vivia mim enchendo a cabeça para aprender françes, evidentemente nacionalista como ele era, vivia anunciando aos 4 ventos que era uma das línguas mais bonitas do mundo, e eu concordava com ele, é realmente um idioma fantástico, mais o meu interesse era desenvolver o inglês já que sabia que com ele eu poderia ir a qualquer parte do mundo já que nos países de 1º mundo o inglês era tido como 2º idioma e era possível sempre encontrar alguém que falasse, ou melhor fora aquele françes que encontrei em Paris, o qual tinha um françes tão mal como o meu, nos casos posteriores isso não ocorreu, os françeses falavam inglês com muito a vontade, embora haja pessoas que dizem que em França os franceses não gostam de falar outro idioma a não ser o seu, mais não tive nenhum problema com isso, mais também temos que levar em conta que sempre que eu ia abordar alguém para apanhar informações, procurava primeiro fazer uma avaliação psicológica para poder detectar nessa pessoa uma certa receptividade e simpatia.
Nessa manhã houve muitos turistas no Castelo, foi um excelente dia para o negócio, até parecia que os turistas queria nesse dia pagar todos os gastos que tive com a ida a Paris, para que eu fosse visitar também os paisis deles. Na hora do almoço fomos até a baixa almoçar na Abelhinha, ao chegar lá estava o maluco do Alberto Martins, o aquarelista que era realmente bom na aquarela, e a cada 10 minutos de conversa tinha que correr para a casa de banho dizendo está "aflitinho ",. Almoçamos todos juntos e perguntei ao Alberto onde ele andava que já naõ o via a muito tempo, ele disse que estava trabalhando em Cascais. Cascais é uma linda cidade que fica bem perto de Lisboa, pegávamos o comboio no Cais do Sodré qua fazia a ligação direta, passando por vários locais turísticos, como Bélem, o Mosteiro, o monumento das descobertas, o Estoril, é verdade vocês já conhecem essa linha, era a que eu apanhava todos os dia quando morava em Algés, naquela casa de drogados que os apanhei todos em volta de uma vela, estão lembrados?
Pois é, o Alberto andava trabalhando lá e dizia que o movimento turístico era tão bom quanto ao do Castelo, a diferença é que tinha os moradores de Cascais que também eram bons compradores, Cascais é tida como uma cidade de quem tem dinheiro, era a cort d azur portuguesa, e um lugar muito agradável as pessoas são mais simpáticas do que em Lisboa e o curioso que há uma distancia tão próxima que não chegava a 1 hora de comboio.
Resolvemos eu e o Patricy experimentar, para mim essas mudanças eram sempre boas, não é que o movimento estivesse fraco em Lisboa, mais era a vontade constante em viajar, mudar e conhecer outros lugares.
Chegamos em Cascais e fiquei apaixonado de imediato pela cidade, era pequena mais muito bonita e luxuosa, lembrava mesmo as pequenas cidades em França que quando eu passava de comboio observava pela janela.
Coloquei o meu material ao lado do Patricy, fomos beber alguma coisa para começar o dia e retornamos ao trabalho. Ao nosso lado havia um artesão português muito simpático, possuía uma banca e quando percebeu que eu era brasileiro estava constantemente fazendo perguntas sobre futebol, assunto que eu não domininava nem um pouco, mais procurava manter uma conversação sem ele dar por isso.
Estivemos nessa rua durante muito tempo, Cascais passou para mim ter uma importância maior, não só era a questão das vendas, era a própria paisagens a maneira de ser das pessoas que lá viviam e também uma coisa muito especial que era a proximidade com o mar, ou melhor, para ir para Casacais fazíamos toda a costa do Estoril e a cidade era a beira mar, tudo isso contribuiu para escolher Cascais como o meu melhor local de trabalho.
Corria tudo lindamente, a policia também de vez em quando costumava chatear, falavam mais depois iam embora e evitavam voltar para não ter que nos chatear muito, faziam a penas o papel deles mais não procuravam ser muito severos. Depois de um bom tempo já não diziam nada, afinal não havia nenhuma reclamação com relação agente, trabalhavamos apenas, não criavamos tumultos e eles de imediato perceberam que também não consumíamos drogas, e esse elemento era muito importante para que um vendedor ambulante conseguisse ficar trabalhando naquela áreas.
Um belo dia estávamos trabalhando e apareceu um rapaz egípcio que humildemente se aproximou e perguntou se poderia colocar ao nosso lado o material dele para vender. O material consistia em papiros, naquela altura os papiros egípcios era moda, todo mundo comprava, ele vendia bastante. No inicio quando perguntou se podia vender ao nosso lado evidentemente fomos o mais hospitaleiros possíveis, e ele colocou o seu material que não ocupava nem se quer 2 metro quadrados, com toda a sua humildade e simplicidade. Passei a ter uma visão muito negativa com relação aos egípcios a partir desse rapaz.
Naquela altura havia uma imigração muito grande e de egípcios em Portugal, e encontrava-se papiros por todo lado, e egípcios também. Quando o rapaz começou a ficar a vontade, foi aumentando o espaço em que colocava os papiros, até que um belo dia esse espaço já correspondia a mais de 8 metro quadrados, ele tomou uma grande parte da rua que por si já era estreita. Para mim e para o Patricy, estávamos pouco nos lixando, já que não nos encomodava e não afectava os nossos negócios, já que a clientela dos papiros não tinha nada a ver com as aquarela, os clientes das aquarelas não via muita graça nos papiros por se tratar de um trabalho industrializados, se não expliquei bem, nesses mesmos papiros haviam pinturas egípcias, pirâmides, faraós, e tudo relacionado ao Egípcio, só que não era pintado a mão, era impresso e em grande quantidade.

Holanda, Amsterdam.


Um dia apareceram colegas desse egípcio e cada dia apareciam mais, trabalhávamos mais ou menos bem´porque comecei a sentir neles uma certa hostilidade, e quando presenciavam as nossas vendas de aquarelas não ficavam nada satisfeitos, até que um dia de manhã chego para trabalhar com o Patricy e tínhamos toda a área em que trabalhávamos ocupadas por papiros, perguntei o que se passava, estavam todos juntos nesse dia, e 2 deles se aproximou de mim e do Patricy e disse que era para procurarmos outro lugar porque a partir daquele momento só eles iriam trabalhar naquele espaço e que deveríamos e para outro lado da cidade para não incomodar as vendas deles. Olha, não sei o que se passou comigo, eu simplesmente perdi por completo a cabeça, comecei a chutar papiros para todo lado, aquilo era uma chuva de papiros que não paravam, se lançaram todos contra mim, aquilo foi uma confusão enorme naquela rua, O que mais mim deixou indignado foi o fato do rapaz quando chegou a primeira vez tão humilde e respeitador e de repente mostra uma veia canalha e prepotente, querendo juntamente com os colegas nos retirar de um local do qual já estávamos antes deles chegarem, e tentaram usar da violência para conseguir, só que não esperavam eles, que eu tivesse aquela atitude, procuro sempre ser uma pessoa gentil e educada, como acho que todos deveriam ser, e derivado a isso, acho que eles acreditavam que aquele brasileiro tão educado e gentil não iria enfrenta-los, deram provas claras de que eram ditadores e arrogantes. Geralmente nesses caso logo aparecem o pessoal do " Deixa disso" como dizemos no Brasil, e começaram a desapartar, para minha sorte, é que eles eram muitos e provavelmente eu iria levar a pior.
Quando as pessoas começaram a por agua na fervura, e procurar baixar os ânimos exaltados, não demorou 15 minutos para aparecer a policia, o carro entrou na rua principal e parou justamente a nossa frente. Uma coisa eu tinha certeza, sabia que tão cedo eles não iriam aparecer na rua, e provavelmente correriam o risco de serem repatriados. Não se hoje em dia ainda é assim, mais naquela altura a entrada de imigrante egípcios em Portugal era muito controlada, não era fácil para eles conseguirem visto de entrada no pais. e derivado a essas dificuldades corriam sérios ricos de serem deportados caso se envolvessem em problemas com as autoridades portuguesas, e foi o que ocorreu.

De imediato ao chegar os policias repararam que se tratava de confusão entre imigrantes e a primeira coisa a pedir foram os passaportes. Eu estava tranquilo porque sabia que comigo e o Patricy não iria haver problemas referentes a possibilidade de deportação, a relação diplomática entre o Brasil e Portugal não possibilitava um procedimento dessa natureza diante de uma simples briga de rua. Só que com os Egípcios as coisas não foram bem assim, 2 deles nem se quer tinha o passaporte, que pelo visto tinha sido retido no serviço estrangeiro e se encontrava em situação ilegal no país, foram conduzidos directamente para a esquadra de Cascais para averiguações, o que sei é que depois disso tudo, passado uma a 2 horas eu e o Patricy retornamos para o nosso local de trabalho e nunca mais vimos os egipcios.
Passado alguns dias ficamos sabendo através dos colegas em Lisboa, que os egipcios ameaçavam vingança pela a extradição dos colegas, e estavam mesmo chateados com agente, ou melhor, comigo já que o Patricy não se envolveu a não ser na hora de desapartar a briga e procurar apaziguar os ânimos, mais eu estava pouco mim lixando, criei uma antipatia tão grande pelos os árabes que quando os via, provocava-os para que se metessem comigo. eles começaram a concluir que afinal esse brasileiro é maluco.
Nunca em toda minha vida tive nenhum tipo de acto xenofobista, ou tendências para discriminar quem quer que fosse, era uma pessoa totalmente aberta ao mundo, as diversas crenças religiosas, e culturais, mais os árabes mim tiraram do sério, eles tinham uma tendência para procurar intimidar as pessoas através do medo, através de ameaças, mais passado um tempo cheguei a conclusão que era apenas teatro, eles faziam isso para medir até onde podiam ir, e quando concluíam que a coisa não era como pensavam, enfiavam o rabinho entre as pernas e procurava ser amigos de novo. E foi o que aconteceu, ou melhor tentaram fazer acontecer. Estava na rua Augusta com o Patricy vendendo enfrente ao banco português, quando se aproximaram 2 deles com um sorriso no rosto dizendo que era para esquecer tudo que houve, que tinha sido apenas um equivoco. Ai é que fiquei mesmo passado, empurrei um deles e ia começar outro barraco, chamei-os de covardes, pilantras, porcos e vária outras palavras bem feias. Vocês devem achar que foi um acto mal educado da minha parte, que deveria aceitar o pedido de desculpas deles, mais atrás daqueles supostos pedidos de desculpas havia um cinismo profundo eles queriam era retornar de novo para próximo da agente e de outros colegas que se indignaram com o ocorrido e não davam confiança a eles. A partir desse momento levou muito tempo até eu ver os árabes por um prisma mais positivo, mais confesso que além desses palhaços, ainda tive o azar de mim deparar com vários outros com a mesma mentalidade, tentar impor o medo para dominar.



Acho que se eu morasse em um país árabe, não sobreviveria muito tempo, porque se há uma coisa que mim enlouquece por completo, é presenciar um ser humano se aproveitar da fraqueza do outro.
Fiquei sempre alternando entre, Cascais, Castelo de São Jorge, Praça da Figueira, Rua Augusta e a rua do Carmo. Um belo dia fui arriscar mais uma vez a tão temida rua Augusta, cheguei coloquei um belo cavalete que havia comprado na enorme papelaria Fernandes, coloquei uma grande placa sobre ele e expôs as minhas aquarelas. Nesse dia parecia que o mundo estava conspirando para que tudo desse certo, são aqueles dias famosos e que costumamos chamar de dia de sorte.
Só enquanto estava colocando as aquarelas pressentir a aproximação de alguém, e pensei, será que bem cheguei e já dou de cara com um policia, mais afinal não, olhei sorrateiramente por baixo dos cotovelos e reparei um par de sapatos, e conclui, ou é um policia a paisana ou um provavelmente um cliente, e acertei na 2º hipótese.
Ainda nem tinha colocado as aquarelas todas e lá estava o homem com um olhar curioso e demonstrado vontade em ver todas as aquarelas, retirei da minha pasta um conjunto de umas 10 e coloquei nas mãos dele, e disse, pode ficar a vontade enquanto arrumo o resto do material. Ele começou a olhar uma a uma, e depois mim perguntou o preço, disse as maiores há 30 euros e as menores a 10, ele simplesmente respondeu, e se eu levar todas quanto fica? Engoli em seco e pensei, já ganhei o dia! no total eram 220 euros e disse que faria um preço bem especial de 180 euros, o cara deu um ligeiro sorriso e com um ar despreocupado falou, Ok, aceito. Não era tão raro acontecer esse tipo de situação, muitas vezes eram donos de galerias que costumavam ir a baixa comprar trabalhos aos artista e depois colocam uma sofisticada moldura e põem em exposição nas suas galerias colocando um preço absurdo a depender da galeria, e por fim alegam aos clientes que se trata de um aguarelista que está tendo um bom reconhecimento de suas obras no mercado europeu, e acabam por fazer bons negócios, portanto quase sempre apareciam esses anjos que limpavam agente numa só compra.
Para vocês terem uma ideia, a minha ida a Paris, nem se quer gastei 100 euros. Portanto olhei para aquelas notas e disse para mim mesmo, Itália, acho que vamos nos conhecer! O bem dito cliente pagou, agradeceu, desejou um bom dia e se despediu, nesse exacto momento estava chegando o Patricy que de longe já vinha filmando toda a cena e concluiu que eu tinha feito um excelente negócio, ao chegar perto de mim respondi, coloca o material ai e vamos tomar um copo para comemorar, já ganhei o dia e a semana, acabei de vender tudo o que tinha a aquele senhor, ele deu um sorriso de felicidade e disse, óptimo, vamos comemorar em um novo restaurante que abriu na rua do Ouro. E lá fomos nós.

O interessante de se trabalhar na rua. É que muitas vezes deixamos todo o nosso material exposto sozinho e ninguém toca em nada, as pessoas que passam e que maldosamente tivessem essa necessidade, acabam por concluir que o responsável pudesse está a alguns metros dali observando as pinturas e resultado disso, o material estava sempre seguro. Muitas vezes os próprios lojista ou funcionários das lojas que se encontravam ao nosso lado ou principalmente a nossa frente se encarregavam de olhar o nosso material na nossa ausência, havia sempre uma boa relação entre os artistas e os lojistas, muitos gostavam da nossa presença e acreditavam que dávamos a rua um ar mais intelectual e europeu, evidentemente havia aqueles velhos problemas com os drogados, mais uma boa parte deles também sabiam como se comportar em público e as pessoas nem se quer imaginavam das suas necessidades e vícios. Portanto muitas vezes os lojistas eram nossos aliados e quando a policia aparecia para nos chatear alguns deles entravam na nossa defesa, deixando muitas vezes os policias meios constrangidos por fazer um trabalho que a maioria das pessoas não aceitavam e criticavam o fato deles obrigarem um artista a se retirar das ruas durante o tempo em que estávamos pintando uma aqurela. Por causa disso haviam muitos policias que faziam o que chamamos de vista grossa, ou seja, quando passavam fazia de conta que não nos viam, e muitos até evitavam passar pela rua Augusta para não ter esse constrangimento.
Todos nós sabíamos o que fazer quando fossemos interpelado por um policia, e se ele nos mandasse sair, procurávamos sempre complicar a situação, porque quando isso acontecia automaticamente as pessoas que passavam e reparava que estávamos sendo proibido de manifestar o nosso talento, se viravam para cima dos policias e começavam a formar o maior barraco, e cada vez mais aparecia mais defensores.
É muito injusto para um policial, sabemos disso, mais também tínhamos que trabalhar, não podíamos ser tão sensatos em nossos actos, quando o que está em jogo é a nossa sobrevivencia, e a câmara de Lisboa não se preocupava nada com isso e não dava licença para expor em lado nenhum, uma grande diferença entre o resto dos paísis europeus em que as arte eram incentivada e havia sempre um local para os artistas exporem as sua obras, mais Portugal nesse sentido sempre foi muito atrasado, sempre atribuíam as manifestações artísticas urbanas como uma actividade marginal e sem interesse, dificultando sempre a sua execuçaõ, a nossa sorte é que em todas as sociedades há sempre pessoas inteligentes e bem informadas e que não carregam esse tipo de opinião tão marginalizada e atrasada referente as manifestações artísticas, e quando presenciavam um acto de discriminação nessa área, demonstravam de imediato a sua indignação


Fui com o Patricy para o novo restaurante e revelei a minha intenção de ir para Itália, ele ficou morrendo de vontade de ir comigo, e pediu-me para segurar os meus ânimos um pouco. Já que ele tinha produzido um bom material e com essa ideia de ir para Itália ele estava se dedicando mais a sério em ganhar dinheiro para alinharmos juntos nessa viagem. Ok, disse-lhe que iria esperar um pouco, mesmo porque o verão ainda estava para começar, e eu sabia que ainda podia fazer bem mais dinheiro.
A noite ao chegar em casa, ou melhor, no meu escritório casa, tentei começar a produzir algumas aquarelas para o dia seguinte, mais era difícil porque não resistia em está na maluquice com a rapaziada, que depois de um dia de trabalho e depois de jantar, sentávamos todos nas escadinhas Marques ponte de Lima para jogarmos conversa fora, e depois acabávamos por ir para um café que havia próximo, tomar uma cervejas e se divertir, portanto tornavas-se difícil trabalhar a sério.
A única hipótese é quando estava na rua, mesmo sem ter o que vender, colocava o meu cavalete vazio, sentava ao lado e começava a desenhar, era a única forma que conseguia trabalhar, não era o único, a maioria trabalhava assim, com excepção evidentemente do Alberto Martins, que tinha uma pancada indescritivel, ele passava noites trabalhando, não se incomodava de amanhecer pintando aguarela, e resultado disso, ganhava muito dinheiro, era quem mais facturava na rua, eu admirava essa capacidade de trabalho do Alberto, mais não havia hipótese de fazer o mesmo, sabia se o fizesse em um ano ganharia por 5, mais para mim o trabalho não estava em 1º lugar, temos sempre outras necessidades, como está com os amigos, sair com uma garota, ou melhor, trabalhar para viver e não viver para trabalhar.
Mais com o Alberto, ele não tinha essas necessidades, a necessidade dele era ganhar dinheiro, não sei se ele estava certo ou não, já passado todo esse tempo uma coisa é verdade, o Alberto tem hoje em dia passado esses 22 anos, uma vida financeiramente equilibrada, possui um apartamento próprio e leva uma vida desafogada, o que aparentemente parece ser o melhor caminho, mais quando estou com o Alberto conversando e trocando ideias, quanto a parte trocar ideias com ele é impossível, pelo fato de quando estamos falando com ele, não há um dialogo, e sim , um monologo, ele fala sozinho o tempo todo não permitindo que agente diga nada, acredito que isso esteja relacionado a uma solidão muito grande, um problema a nível psicológico qualquer, sem acrescentar o fato de está a cada 10, 15 minutos correndo para casa de banho dizendo está aflitinho, ou seja, o cara tem uma pancada enorme, uma pessoa minimamente inteligente depois de está conversando uns bons minutos com ele, chega facilmente a essa conclusão.
Portanto acho que tudo na vida tem o seu preço, hoje em dia de forma nenhuma possuo o equilíbrio financeiro do Alberto, mais em termo de equilíbrio psicológico, acredito que não tenho nenhum problema, sou um homem extremamente feliz e bem humorado, não sei o que é stress e nem preocupações, acho que a vida que tenho levado cheia de aventuras, viagens, e maluquices, criou em mim bases que impedem-me de ver o mundo de uma forma negativa, vejo tudo sempre de forma exageradamente positiva, as vezes amigos e amigas mim perguntam se nunca vou abaixo, se nunca fiquei deprimido, se nunca sinto-me triste. A expressão nunca é muito forte, porque acho que esses tipos de sentimentos são humanos e faz parte de todas as pessoas, mais a única resposta que tenho para isso é, raramente, muito raramente, tão raro que não mim lembro quando foi a última vez.

Eu tenho uma caracteristica curiosa, que os meus amigos conhecem e sabem que é eficaz, pelo menos comigo. Eu acredito na lei da ação e reacção, tudo que acontecesse em nossas vidas por pior que seja, há sempre um lado positivo, o problema é que as pessoas só se preocupam em sentir o efeito negativo impedindo-os que olhem para o lado positivo que geralmente não aparece de forma tão imediata, e sim a longo prazo. Evidente que há coisa negativas terríveis que podem acontecer a uma pessoa, como por exemplo, sofrer um acidente e acabar tetraplegico, nesses casos há de se perguntar, o que se pode tirar de positivo de uma situação como essa, acredito que nada, isso é simplesmente o fim. Mais fora situações tão trágicas, as demais são verdadeiros presentes disfarçados.
Há uma frase que diz “ Os problemas são oportunidades disfarçadas” e costumo brincar com isso e sempre tirar proveitos. Vou dar um exemplo simples e que mim ocorreu a uns meses atrás, estava enfrente a câmara da cidade de Coimbra usando o sistema wi fi que eles oferecem gratuitamente já que a minha banda larga internet estava com problemas e não funcionava bem. . Já era quase meia noite, estava um frio de lascar, estávamos em pleno inverno, eu já estava com fome e cansado e cheguei a conclusaõ que estava na hora de ir embora, quando subo na moto e dou a ignição ela simplesmente não queria funcionar, tentei por varias vezes, cheguei a retirar as velas para ver se havia algum problema, e havia, elas estavam completamente encharcada de combustível, percebo um pouco de mécanica por isso cheguei a conclusão que uma das velas não estava fazendo faisca e consequentemente causava esse tipo de problema.
Não se esqueçam que era inverno e para fazer toda essa operação debaixo daquele frio, eu já estava gelado, conclusão tinha que chamar o reboque para levar a moto para minha garagem, evidentemente como é natural fiquei passado na hora mais depois disse para mim mesmo, relaxa, e procura retirar algo de positivo dessa situação, vocês devem se interrogar, o que de positivo pode se tirar de uma situação dessa? Há sempre algo na minha maneira de ver as coisas, e houve. Liguei para seguradora e ficaram de mandar um reboque no máximo 40 minutos.


Passaram os 40 minutos e eu tremendo de frio, e pensei vai ver que o resultado positivo que vou tirar dessa situação é saber que levo jeito para ser “pinguim”, mais felizmente não foi isso, adiantarei a vocês que o resultado disso foi conhecer uma Ucraniana que mim trouxe bons momentos. Vocês devem está pensando, será que o motorista do reboque era uma ucraniana? Não. Naõ era. Passado quase 1 hora recebo uma ligação, era uma voz de um imigrante dos paises leste responsável pelo reboque e acreditei que o cara era ucraniano, mais também não era, o cara era Búlgaro, mim ligou para perguntar onde eu estava com a moto avariada, devo salientar que já havia dado todos os detalhes a seguradora quando fiz a chamada solicitando o reboque, tive que repetir tudo de novo, disse ao búlgaro que estava enfrente a câmara de Coimbra ele simplesmente não sabia onde era, e eu perguntei, como pode uma pessoa que trabalha numa empresa de reboque em uma cidade tão pequena como Coimbra e não conhece a cidade.
Depois de alguns esclarecimentos consegui fazer ele perceber onde ficava. Ao chegar trazia um carro que não era um reboque e sim um atrelado, foi a 1º vez que vi uma coisa dessa, então perguntei, é esse o reboque? E ele preocupado e atencioso disse que era o suficiente para levar a moto por se tratar de um meio de transporte pequeno. Só que a minha moto não era tão pequena, tratava se de uma kawasaki zx12r ninja com 260 quilos e necessitando de conhecimento para coloca-la em um atrelado, pelo fato dela ter muita carenagem, e pouco local considerado seguro para prender as correias, e ele simplesmente não sabia como, e começou a colocar-la por cima do para-lama dianteiro, que sem sombras de dúvidas iria partir depois de submetido a pressão.

Cheguei a conclusão que eu tinha que tomar a frente e ficar responsável por essa operação, as peças para essa moto eram caríssima e se houvesse algum problema ia pesar no salário dele, tinha certeza disso. Como imigrante dos paises de leste, eram sempre explorado pelos patrões e não levavam uma vida fácil. Ele mim disse que já estava em casa com a mulher e o filho quando o patrão o ligou dando ordem para que fosse rebocar a moto, e que o fato de está trabalhando até aquela hora não iria acrescentar nada no salário dele, iria receber o mesmo como sempre.
Durante esse período mim contou a vida dele quase toda, tudo que já tinha passado em Portugal nos últimos 10 anos, ele era um cara extremamente bem humorado, contava os seus problemas sempre com um sorriso no rosto, e não com um ar de sofredor típico da maioria dos portugueses, e olha que a vida dele não foi nada fácil. Eu pensava que ele era ucraniano por causa do sotaque que praticamente era igual, mais ele procurou de imediato retificar, e super valorizar os búlgaros diante dos ucranianos.
Chegamos a a minha garagem, descarregamos a moto com muito cuidado, agradeci, nos despedimos, foi um momento diferente, original, foi interessante o bate papo com aquele búlgaro, ele tinha praticamente a mesma idade que eu.
Passado uns bons meses estava em uma concentração de motos em Faro, uma magnifica concentração, que passei a ser um fiel frequentado, e todos os anos não perdia, eram mais de 40 mil motos, depois contarei sobre as minhas aventuras sobre 2 rodas e quando adquiri uma maquina verdadeiramente potentes e passei a fazer verdadeiras loucuras como por exemplo, conduzir voando pelas as auto estradas portuguesa e alemãs acima do 300 km/h, sensações absolutamente fantásticas e perigosas, mais marcou muito um período da minha vida. Faro possuía uma atmosfera fantástica, e quem acabo encontrando lá? O búlgaro, que estava acompanhado da mulher e de uma amiga ucraniana, a qual ele mim apresentou e acabamos por passar momentos fantásticos nessa festa que durou 4 dias.
Como disse antes, o retorno do lado positivo de uma situação que as vezes acreditamos ser negativas e péssima, acaba se revelando a longo prazo o seu lado positivo, o problema de muita gente é que as vezes nem dar por isso, passa o tempo todo lamentado a falta de sorte e se esquece do que pode vir de positivo desses supostos problemas, como disse antes; Os problemas são oportunidades disfarçadas.


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