sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PARTE 4º. A história de um imigrante brasileiro baiano na Europa. Anildo Motta

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Alemanha, Stuttigart


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Chegando ao Brasil, ao sair pela porta do avião, recebi um abraço quente da minha terra, a temperatura como sempre muito alta, aquilo me fez um bem fantástico, adorei está em Portugal, tive experiências fantásticas, mais o meu país é realmente um paraíso. Já tinha saudades do sorriso das pessoas, do bom humor, da forma carinhosa de tratar uns aos outros, que geralmente fazem os turistas pensarem, que por trás daquele sorriso amável existe interesse, não, essa gente sabe mesmo ser simpática. Essa experiência me fez entender que todos os lugares possuem os seus bons e maus atributos, mais uma coisa é certa, tratando-se do factor humano, o Brasil e a América latina são fantásticos. Digo América latina por que retornando a Portugal acabei passando na Venezuela, mais uma aventura inesperada, já logo vos conto.
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Passei um mês no Brasil e estava na hora de volta para Portugal, quando sai de lá comprei uma passagem de ida e volta só para me lembrar que deveria voltar. Confesso que já tinha saudade de Portugal, o Patricy mim enviou uma fotografia do castelo de São Jorge, do qual atrás ele escreveu. Está a sua espera! Aquilo me deu uma vontade de rever o castelo, que mim fez passar contar os minutos. O curioso é que era uma sensação esquisita, eu ao mesmo tempo que queria voltar a Portugal, havia um outro lado em mim que queria ficar no Brasil, mais ai entrava o lado racional, se eu ficar no Brasil, já não ia ter o ensino intensivo de vida que tive ao estar em Portugal, em 9 meses que estive lá, aprendi por pelo menos 10 anos, devo salientar que grande parte da aprendizagem estava relacionada a tragédia humana, ao flagelo da droga, e também evidentemente as diferenças sociais e culturais de um povo. Foi incrível o efeito colateral que surgiu em mim depois dessa experiência em Portugal. Eu já não mim sentia o mesmo, estava estranho, estava frio, já não era aquele garoto sorridente, brincalhão e com um espírito ingénuo. Perdi um pouco a fé nas pessoas, depois de ter visto tantos problemas em Portugal referentes a drogas, a tragédia humana que ela pode causar, o estado miserável que um ser humana pode chegar, as mentiras, a falta de respeito, a tendência pretensiosa de muitos, a discriminação, eu estava vacinado, já não era o mesmo. Uma noite na praia de Itapoã em Salvador, eu estava com os amigos tomando umas cervejas e se divertindo e uma menina perguntou ao meu amigo se eu era baiano, ele disse que sim, ela disse, não parece, ele carrega um ar frio. Quando o colega mim contou isso, confesso, que tive medo, senti que havia mudado, era como se tivesse uma espécie de trauma de guerra, mais sabia que era o melhor caminho, tinha que aprender a viver na selva, a vida que eu levava antes de sair do Brasil, não podia ser, a vida não é fácil, o problema na vida não é falta de dinheiro, porque isso agente dá sempre um jeito, o problema é chegar a conclusão que o ser humana pode ser podre enquanto está vivo. Bem não vou entra nessa, o mundo é o que é, e eu vou pôr ele no bolso, por isso tenho que ir.

Alemanha. Stuttigart.

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Comprei uma passagem para Portugal com escala na Venezuela, eu sabia que quando se trata de vôos com escala, se ocorrer algum problema causado pela empresa aérea que venha impossibitar o vôo para o país de destino, eles são obrigados a instalar todos os passageiro em um hotel com despesas pagas. Bem, desnecessário é dizer que eu contava que isso ocorresse para poder conhecer um pouco a Venezuela. O meu avião fazia duas escalas, era um vôou extremamente cansativo, mais era muito barato por isso que mim sujeitei a ele. O vou saia de Salvador para o Rio de janeiro, do Rio para Caracas e de Caracas finalmente para Lisboa. Chegamos no Rio, desceram alguns passageiros que tinham o Rio como destino, e entraram outros com destino a Caracas e possivelmente Lisboa. Era uma parada de pelo menos 1 hora, eu já estava completamente saturado de está dentro daquele avião, estava sentado em uma cadeira no corredor observando as pessoas que entravam, de repente vejo um cara cabeludo, com uma camisa toda colorida, de óculos escuros parecia um terrorista árabe, e carregava uma mochila que indicava está muito pesada, afinal quem era o maluco, era o Mário, fiquei pasmo com a tanta coincidência  quando ele ia passando por mim, bati no peito dele e disse, oh, manééééé! Onde você pensa que vai? Ele tomou um susto enorme, largou a mochila, e nos abraçamos, foi uma festa tremenda. A partir dai, arrumamos um jeito de trocar de poltronas com um cara que estava ao lado dele, e fizemos a viagem juntos para Venezuela, ele estava indo vender em uma feira anual que costumava ter todos os anos em Caracas. A viagem foi uma doideira, depois de almoçar entramos no wisk, aquilo era uma festa, chegamos a Venezuela em Caracas e depois de um excelente problema que ouve, ele mim deu o contacto dele e nos separamos, já vos conto o excelente problema. Ao mim dirigir ao balcão de informação da Viaza, que era a companhia aérea que eu viajava, vi uma certa concentração de turistas em volta do balcão e percebi que se passava alguma coisa, e realmente passava, para a minha sorte a garota do atendimento disse-me que ocorreu um problema técnico e que o vôo não poderia sai nesse dia, só passado 2 dias é que a Viaza iria ter condições técnicas para realizar a viagem.
Foi fantástico essa situação, como disse antes sabia da possibilidade, mais não acreditava que fosse possível acontecer. Para ter certeza que as coisas iriam correr bem, ainda montei um teatro enfrente ao balcão da Viaza, interrogando as duas funcionárias quem ficaria responsável pelo prejuízo que eu iria sofrer em termos empresariais por não está em Lisboa na data prevista, evidente que eu não tinha compromisso nenhum, como disse antes era apenas teatro. Uma das funcionarias muito atenciosa mim disse que infelizmente não podiam fazer nada, a única coisa a fazer era hospedar os passageiros e se responsabilizar pela a hospedagem, eu poderia escolher entre 2 hotéis 5 estrelas, o Meliar hotel ou o Shereton hotel. Isso para mim foi formidável, por dentro eu estava soltando foguetes de tanta felicidade, acabei por escolher o Shereton hotel por achar mais chique. Melhor impossível.


Já havia um ónibus da companhia aérea a espera para nos conduzir até o hotel. Me senti um turistão, e resolvi deglutir cada minuto daquela situação, como disse bem no inicio do livro quando sai do Brasil e estava no avião, nessas situações ninguém sabe nada de ninguém, e pela atitude e segurança, qualquer um pode se fazer passar por um nobre, e foi o que fiz, não é um acto muito correto e bastante primário, mais não se esqueçam que na altura eu era um jovem em busca de emoção. Ao chegar ao hotel, foi entregue aos passageiro da Viaza, uma espécie de cartão de visitante que deveria ser apresentado na hora do jantar para não termos que pagar a conta, essa ficaria por conta da viaza. Cheguei no meu quarto, tomei um bom banho para relaxar e depois desci para o restaurante. O restaurante era magnifico, grande e no centro uma enorme piscina, do lado direito havia uma banda tocando musica típica venezuelana, quando eu cheguei na porta do restaurante fui recebido por um simpático garçon que provavelmente esperava receber uma boa gorjeta no fim do serviço que mim perguntou se preferia uma mesa próxima ou longe da banda, e eu com o ar meio em dúvida, respondi que poderia ser próximo, já que eu gostava da musica caribenha. Bem quanto ao cartão, vocês não acham que eu iria apresentar a ele e estragar tudo, acha? Mantive-me sereno e ao chegar a mesa apareceu um outro garçon que mim trouxe o menu, pedi-lhe uma sugestão quanto ao prato tradicional da gastronomia venezuelana, ele mim disse e foi esse que escolhi, e pedi o menu dos vinhos, escolhi tanto o prato quanto o vinho sem nem mim preocupar com o preço, afinal eu não pretendia pagar.

Hotel Sheraton


Tive um jantar inesquecível  depois pedi a ementa de sobremesas e devorei uns doces que eles tinham que não fazia ideia do que era, só sei que era mesmo bom. Eu estava completamente cheio, então pedi uma dose dupla de whisky JB para acelerar a digestão e fiquei observando a banda tocar e uns brasileiro que também estavam no voou só que estavam em situação diferente, evidente que apresentaram o cartão da Viaza como foi instruído, e teve provavelmente o jantar limitado. Fiquei horas naquela mesa, pedi mais uma sobremesa e mais uma dose dupla de JB, o que sei é que quando eu já estava completamente doidão senti que tava na hora de ir para cama e pedi a conta. Aparece o garçon trazendo uma bandeja toda decorada cheia de frescura e no centro da bandeja uma espécie de livrinho e dentro do livrinho um papel que era nada mais nada a menos que a bomba da conta.


Com a pose e tranquilidade de um lord inglés, tirei o cartão que estava no meu bolso e coloquei em cima do livrinho. Os olhos do caribenho ficaram o dobro do tamanho, ele mim fez uma pergunta em espanhol que simplesmente não entendi nada, mais imaginei o que era, voltou a repetir e eu com o copo de wisk na mão e uma tranquilidade no rosto perguntei para ele, sorry! Ele saiu e foi chamar um outro funcionário que chegou com um ar mais tranquilo e educado e mim disse que o gasto que fiz não estava incluso no cartão, e eu disse para ele que além de ser prejudicado financeiramente por faltar a um compromisso marcado na Europa graças a Viaza, não iria ficar responsável pela a desorganização da mesma, e que não tinha sido informado de nada com relação ao limite desse cartão, porque se fosse o caso iria jantar em outro lado, e que essa conta eles apresentassem a Viaza porque eu não iria pagar nem um centavo. Criou-se ali um pequeno silencio só abafado pela musica da banda caribenha, o simpático funcionário olhou para a cara do garçon e encolheu os ombros, depois virou-se para mim pediu desculpas e desejou uma boa estadia. Eu agradeci terminei o meu JB e depois sai de mansinho, eu estava completamente doidão, cheguei a pensar que não iria achar o quarto mais finalmente lá cheguei. Dormi feito um anjo, pela manhã acordo com o telefone tocando, todo sonolento apanhei o telefone e ouvi uma voz em espanhol dizendo que havia uma chamada telefónica para mim, se eu queria atender, disse que sim, e ao ouvir uma voz do outro lado, perguntei quem era, era o Mário muito puto e perguntando se eu conhecia mais alguém em Caracas, que era lógico ser ele. Eu tava mesmo doidão, mais depois daquela farra da noite passada, o que vocês esperavam?

Hotel Sheraton



Marcamos para nos encontrar no centro da cidade, em um restaurante chamado "Cabana Grande", sai do hotel mais não apanhei um táxi lá, porque sabia que o preço seria uma bomba, mim afastei do hotel e vi uma espécie de táxis popular curioso, eles usam grandes Jipes como táxi, só que enfiam lá dentro varias pessoas e depois vão largando nos seus destinos. Perguntei a um deles se passavam pelo centro, por que eu queria ir até ao restaurante "Cabana Grande". O Mário havia me dito que esse restaurante era conhecidissimo e qualquer taxista conhecia. Ele disse-me que o táxi não passava lá, mais eu poderia descer no "Gato Negro" e apanhar o metro até o centro, e o restaurante ficava perto da saída do metro, e foi o que fiz, nos encontramos no restaurante e fomos almoçar em um outro, já que o Cabana grande era muito caro. Foi fantástico o almoço, mais eu não tinha tanta fome, o meu jantar anterior mim deixou completamente cheio, contei ao Mário o que aconteceu e rimos muito da situação. Fomos dar uma volta por Caracas e depois a noite ele mim deixou no
hotel, não caímos na farra a noite porque eu precisava acorda cedo pela manhã para apanhar o avião.
Não se esqueçam que tenho mais um jantar naquele lindo restaurante com banda caribenha, mais já não era possível repetir o filme, ao chegar a porta do restaurante já tinha o meu velho amigo garçon a minha espera com as mãos estendidas esperando o meu cartãozinho da Viaza. Também eu já não tinha tanta fome assim,eheh.
Dessa vez tive um jantar mais modesto, fiquei pouco tempo no restaurante, ainda tive direito a um whiskysito e depois fui para o meu quarto, foi um dia muito cansativo. Portugal amanhã tô ai!
Todos se informaram no hotel quanto ao horário da saída pela manhã do ónibus que nos conduziria ao aeroporto, evidentemente menos eu, embora a telefonista chegou a avisar-me quanto ao horário eu simplesmente mim esqueci e quando acordei no dia do embarque, o ónibus já havia saído, tive que apanhar um táxi na porta do hotel, o que mim custou uma grana preta, mais pelo menos cheguei no horário.

Holanda


Chegando a Lisboa ao descer do avião mim senti como um namorado que acabou de reencontrar a sua namorada, mais uma namorada nada dócil, que mim mostrava de forma realista e cruel o que era a vida.
Voltei ao trabalho só que desta vez troquei de rua, fui com o Patricy trabalhar na praça da Figueira, ficava ao lado do Rossio, era uma praça muito bonita, havia uma famosa pastelaria de nome Pastelaria Nacional, e passei a vender exactamente a frente dela. Passado pouco tempo já todos da pastelaria conheciam agente e havia uma boa relação entre nós. Praticamente eu e o Patricy estávamos quase sempre trabalhando juntos, surgiu uma boa relação de amizade entre agente, a típica e tradicional desconfiança que imperar nesse meio, tinha se reduzida, era como se tivéssemos aprovado um ao outro.
Um dia enquanto trabalhava na praça conheci um brasileiro muito simpático já com os seus 60 anos que estava em Portugal para participar de uma exposição de arte, o ramo de trabalho dele era completamente diferente do nosso, ele fazia quadros de brasões de família, era uma técnica realizada sobre uma espécie de folha de latão, que depois de desenhado o brasão em alto relevo era colocado um produto endurecedor e o brasão ficava parecendo uma escultura em bronze e depois era colado sobre uma grande folha de couro a qual levava uma vara no alto para mante-la imóvel e que pudesse ser exposta na parede, lembrava-me aquelas bandeiras medievais em que os cavaleiros conduziam quando ia as batalhas, ok, não perceberão nada, mais vou ver se mim lembro de pôr uma fotografia exemplificando ok. Era um bonito trabalho e ele tinha ganho um bom dinheiro nessa exposição.
Era um mineirinho muito esperto, já não mim recordo do nome dele porque o chamava sempre de mineirinho. Ele mim disse que onde morava pagavasse muito pouco e valia a pena, era muito próximo da praça da Figueira, consequentenmente do centro. Eu resolvi ir lá conhecer, imaginava qual seria o porem disto tudo, embora o mineirinho mim parecia uma pessoa séria, eu já estava calejado naquela vida e sabia que toda coisa quando era boa, tinha sempre um porem. Fui lá, afinal se tratava de um prédio grande e antigo, em que o subsolo como era muito amplo, ou melhor, do tamanho do prédio, o dono resolveu fazer vários escritórios em que o mineirinho alugou um e transformou em moradia, aquele local em termo de segurança, era zero, porque só havia uma entrada, e lá dentro como era um subsolo janelas nem pensar, mais a ideia foi realmente boa embora o dono do prédio, como dizem aqui, o "senhorio", não permitia que utilizassem os escritórios como casa, mais como ele ia saber, não seria tão fácil já que raramente ele aparecia. É uma maneira de pensar estúpida da minha parte, mais infelizmente as coisas funcionam assim nesta área. Como havia uma casa de banho no fundo do corredor, já não faltava nada, mais atenção, só havia uma casa de banho.

Aluguei um escritório e fui morar para lá, o prédio ficava na costa de Castelo de São Jorge, no bairro da Mouraria, era um bairro semelhante ao da Alfama, casas velhas, roupas penduradas nas janelas, muitas roupas mesmo, as vezes a ponto de esconder a casa que na maioria das vezes eram pequenas, na parede no meio daquelas roupas todas, havia sempre uma gaiola com um passarinho enclausurado, e na base da janela, muitas flores e canteiros. Era uma paisagem romântica, uma pobreza simples e humilde e as pessoas eram felizes ali, como sempre muitas tascas distribuídas por vários lados, e também a epidemia que parecia está tomando conta de Lisboa, haviam muitos drogados, ladrões, e prostitutas. A propósito das prostitutas, eu em toda minha vida nunca tinha visto tantas putas feias, era um verdadeiro festival de terror, quando morava em Salvador e ia passear para o lado da Praça da Sê onde havia movimentos de prostitutas, ficava surpreso com a qualidade das mesmas, parece estranho falar assim, como se eu estivesse avaliando uma lata de feijão, mais elas eram mesmo bonitas a ponto de nos pôr em tentação. Mais em Portugal, principalmente naquela praça era uma verdadeira desgraça. Colocando-me no lugar de um Português iria dizer que é normal, que o Brasil por ser um pais pobre tem muitas prostitutas, mais a questão não é quantidade é mesmo qualidade. Se levarmos em conta que nas últimas estatísticas, Portugal foi considerado como um país que mais de 50% da população é obesa, oh seja, da metade que sobra vamos retirar as"gordas", porque obesa é uma coisa, gorda é outra, após retirar as gordas vamos retirar as feias o que acham que vai sobrar, portanto um país de apenas 10.000.000 milhões de habitantes, não esperem encontrar uma gata a cada esquina, mim recordo de uma velhinha que trabalhava na prostituição que devia ter pelo menos uns 90 anos, nós brasileiros nos interrogávamos de como era possível aquela vôvô está levando uma vida daquela, e se estava é porque havia clientes, que homem desse mundo teria coragem de encarar um 11 de setembro daquele na cama? O ser humano é mesmo louco.


Mudei para o prédio de escritório e comecei uma vida nova na Mouraria, como estava mais próximo do Castelo de Saõ Jorge, passava lá com frequência  Mais gostava também de trabalhar na Praça da Figueira em frente a pastelaria nacional porque havia uma portuguesinha que trabalhava na pastelaria a qual começamos a dar umas voltinhas. Bem voltando ao trabalho, um dia estava pintando uma aquarela quando apareceu um brasileiro de nome Fernando, era mineiro de Belo Horizonte e deixou o Brasil com o'mesmo objectivo de todos trabalhar em Portugal e tentar ganhar a vida, ele chegou a Portugal acompanha de um amigo de infância, era o Ulisses, ambos eram 2 rapazes fantásticos, o Fernando se traduzia em uma pessoa honesta e trabalhadora, um menino de bom coração a princípio estranhei um pouco a maneira que o Ulisses o chamava que era de Negão, ele não se incomodava já que com o sorriso e uma boa disposição dizia " Eu sou mesmo negão" ele era de raça negra mais possuía os traços faciais bem delicados, não tinha o nariz largo e lábios grossos como geralmente se traduz uma pessoa de raça negra e era extremamente vaidoso. O Fernando era o maior barato, usava um cabelo rasta e toda aquela combinação dava ao Fernando um aspecto alegre e bem humorado morava em Benfica um bairro a alguns minutos do centro, estava com problemas de moradia e então sugeri o prédio de escritórios. Bem ai começou uma verdadeira invasão de brasileiros, ele foi morar lá e fez publicidade do local, resultado de um falar um para o outro, o senhorio acabou tendo todos os escritórios alugados, ele devia achar estranho de repente, tanto tempo sem conseguir alugar os escritório e de aparece um monte de brasileiros "empresários" que resolverão abrir negócio lá.



    Ele não fazia ideia que o negócio consistia em morar e fazer dos escritórios casa. Se recordam que só morava lá eu e o mineirinho, fomos os desbravadores da Escadinha Marques Ponte de Lima, era assim que se chamava o nosso endereço.


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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PARTE 3º. A história de um imigrante brasileiro baiano na Europa. Anildo Motta 3º PARTE

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Itália, Veneza.



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    Comecei a pintar mais aquarelas com uma qualidade bem melhor, comprei alguns livros referente a essa materia ensinando a pintar na papelaria fernandes, a grande loja que entrei a primeira vez que cheguei a Lisboa, ai então comecei a desenvolver. Para diversificar a apresentação, também comecei a pintar uns trabalhos abstractos em folhas grande tipo a do Roberto, assim podia vender um pouco mais caro e jogar com o preço.

    As vezes não apareciam todos na rua, principalmente o Paulo, quando havia muita gente vendendo na rua do Carmo ele ou ia para Rua Augusta vender e aturar os policias, ou ia para o castelo de são Jorge. Trabalhar no castelo era fantástico, era um sonho trabalhar em um lugar tão bonito, era o tempo todo entra e sai de turistas, tirando fotos, sorrindo, era um ambiente fantástico.
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    Quando havia pouco movimento eu ia para o outro lado do castelo que dava vista a toda cidade de Lisboa e ficava admirando aquela paisagem, era tão bonita. Havia antigos canhões da época das invasões apontados para o rio Tejo, eu as vezes ficava sentado em cima desses canhões desenhado e ao mesmo tempo contemplando aquela paisagem. Era possível de lá ver o grande centro comercial recentemente construído em Lisboa, que era o "Amoreiras" e que causou na altura o maior reboliço pelo fato de alguns considerarem uma obra com uma arquitetura muito moderna e arrojada não combinando com o estilo da área existente, eu sinceramente não vi nada de mais, mais pronto. Costumava ir sempre lá ao cinema e era um bom lugar para conhecer umas portuguesinhas, e mim diverti um pouco.

    Um dia estava na trabalhando na rua e conheci um brasileiro de uma personalidade admirável, ele se chamava Mário, era de Minas Gerais, eu o chamava de mineirinho. O Mário era vendedor de artesanato, um cara muito inteligente, o trabalho dele consistia em viajar pelo Brasil comprando artesanato em quantidade e bem barato, e trazia para vender em Portugal, ganhava muito dinheiro, tinha uma história como o da maioria das pessoas que vivem pelo mundo, simplesmente fantástica, era chegado também a um raxixizinho, mais era uma pessoa muito moderada, já tinha levado muita pancada da vida e conseguiu se equilibrar. O Mário era o que chamamos no Brasil de menino de rua, foi criado na rua, no meio de toda a malandragem e violência típicas das grandes cidades Brasileiras. A mãe do Mário possuía 2 filhos, era o Mário e um outro rapaz que já não mim lembro o nome, ela era muito pobre e não tinha condições de educa-los, por isso, o mais velho foi entregue para adopção e teve a sorte de ir viver na casa de uma família bem abastada, o Mário ficou com a mãe, e no final acabou virando menino de rua, um dia saiu de casa, e a rua passou ser a sua moradia, pelo visto era melhor. Passou por situações que deixava até o diabo assustado, sobreviveu a tudo isso, conheceu uma garota na altura que o fez escolher o bom caminho, e acabou por se transformar em um cidadão normal e trabalhador. Nunca me esqueço de uma história que ele mim contou de quando era criança, no dia de Natal ele via todos os garotos, filhos de famílias ricas com presente, bibicletas, bolas, jogos, e ele não tinha nem o que comer, quando um garoto filho de uma dessas famílias rica, parou para conversar com ele e mostrar a bicicleta que havia ganho no Natal, o Mário pediu para dar uma voltinha e nunca mais voltou, ou melhor, roubou a bicicleta do garoto riquinho, e numa cidade como o Rio de Janeiro, ninguém encontra ninguém. Era um cara simplesmente excepcional, foram muitos almoços e muitas aventuras que tivemos. Depois foi embora vender para Espanha, pensei nunca mais encontrar o Mário, mais a vida é mesmo louca, o mundo é realmente pequeno e mais a frente vocês saberão porque.

Alemanha, Stuttigard


 Na hora do almoço gostava de descer para zona baixa da cidade para almoçar, não gostava de almoçar na Alfama, na baixa havia uma variedade maior de restaurantes e tinha um que eu gostava muito de frequentar, era o restaurante da "Abelhinha", abelhinha era o nome da portuguesinha filha do dono que trabalhava lá, era muito divertida, trabalhava feita uma doida, o pai era o típico português que só pensava em ganhar dinheiro, a mulher dele era a cozinheira, muito simpatica e eu gostava de ir sempre lá, escrevendo isso agora mim deu saudades daquela comida e do vinho do restaurante da abelhinha.

    Fiquei sempre alternando entre a Rua do Carmo e o Castelo de São Jorge, o fato de não ir sempre para o castelo era porque tinha que subir uma verdadeira montanha até chegar lá e por preguiça preferia ficar pela baixa, até que resolvi encarar a Rua Augusta e correr o risco de ter um contacto imediato do 3º grau com um policia,e ai lá fui eu. Dei sorte nos primeiros 2 a 3 dias, até que um belo dia estava compondo uma aquarela que estava fora do lugar, quando sinto uma pessoa parada ao meu lado bem perto de mim, só via os sapatos dele quase que colado em mim, levanto-me e de repente vejo um homenzinho de 1.50 a 155 que se dizia policia, olhando para mim de baixo para cima, já que na altura eu já media 1.90m, e com o ar arrogante virou- se para mim e disse, fora daqui imediatamente se não prendo tudo isso. Ok, que ele era policia a paisana, tudo bem, mais eu não estava habituado a ser tratado dessa maneira e não iria permitir que ele falasse assim comigo, e ainda mais se tratando de uma figurinha como aquela. Sem pensar, e com a atitude desafiadora, normal para um jovem adolescente de 22 anos que não estava habituado a esse tipo de tratamento bruto e arrogante, virei para ele e disse que para prender o meu material, primeiro ele precisava crescer e virar um homem, porque sozinho ele não era capaz. O Portuguesinho ficou fulo da vida, mexia para um lado, mexia para o outro e quando viu que eu estava decidido, e estava mesmo, puxou de um radio e chamou os seu colegas.

Paris, Catedral de Notridame

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    Passado nem 10 minutos chega uma carrinha da policia com 3 policias, vieram na minha direcção e eu fazendo de conta que não percebia nada, um deles exclamou, o que se passa aqui? Quando o policialzinho muito puto disse que eu o queria agredir e negava a tirar o meu material da rua, portanto eu deveria ser detido e conduzido a esquadra. Esquadra em Portugal é delegacia e carrinha da policia era um Furgão. Então o policia mais excitado mim perguntou, Você está querendo agredir uma autoridade? E eu inocentemente disse, não de forma nenhuma, para começar não sabia que esse cara era policia, ele chegou aqui falando bruto comigo e naturalmente eu reagi, pensei que fosse um vendedor de droga. É que na rua Augusta havia sempre vendedores abordando os jovens oferendo raxixi. Raxixi é uma espécie de pasta feita a partir de uma erva tipo a maconha que eles põe no cigarro para fumar. E ai é que o policiasinho ficou passado, ele ameaçou mim agredir, como estava com os colegas podia se proteger se escondendo atrás deles. Aquilo foi uma confusão, as pessoas que iam passando paravam para ver o que estava acontecendo e cada vez mais concentravam-se gente que começavam com criticas a policia, exclamando palavras do tipo, deixem o rapaz em paz!, não ver que ele está trabalhando honestamente!, por que vocês não vão atrás dos drogado e ladrões que estão soltos por ai? Aquilo foi um verdadeiro barraco e os policias não estavam acostumados a serem desafiados dessa maneira por um vendedor de rua, não sei se devido a ditadura que deixou marcas na sociedade ou as enormes responsabilidades que possuíam e não queriam perder tempo com estes tipos de problemas. Tudo bem, compreendo que ele estava fazendo o trabalho dele, só acredito que ele deveria ter um mínimo de educação e não falar com uma pessoa que ele não conhece de lado nenhum desta maneira, tudo indicava que aquele modo grosseiro e prepotente tinha sido alimentado por muitas pessoas que ele já deveria ter desrespeitado, e baseado nisso é que reagi desta maneira
    Resultado, mim levaram preso. Fui conduzido até ao carro da policia e levado até a esquadra de palhavã. O policiasinho estava tão puto comigo que tentava incentivar os colegas a me agredirem, mais não teve sorte, mesmo porque um dos polícias já me conhecia e alertou o colega para que se comportasse.

Mosteirio dos Jerónimos Lisboa


Ao chegar a esquadra fui ser interrogado pelo responsável que mim perguntou se é verdade que eu queria agredir uma autoridade. Eu responde evidente que não, e dei a mesma desculpa que tinha dado anteriormente ao colega dele. Então o policia mim perguntou se eu não sabia que era proibido a venda ambulante na rua Augusta, eu respondi que não, tinha acabado de chegar a Portugal e como tinha visto algumas pessoas vendendo na rua pensei que não tivesse problema. Bem no final de tudo depois de receber um longo sermão, me alertaram que se caso quisesse recuperar o meu material, teria que pagar uma multa que era de 30 euros. Então paguei a multa já que esse valor correspondia a apenas 2 aquarelas das pequenas e como eu tinha bem mais que isso, valia a pena. Sair de lá e fui apanhar o metro para o Rossio depois mim dirigí para o Castelo de São Jorge onde consegui passado algumas horas recuperar o prejuízo. Não pensem que foi a primeira e ultima vez, isso acabou por ocorrer varias vezes porque eu acabava sempre retornando a rua Augusta e era sempre apanhado, e o engraçado de tudo é que acabei criando uma boa relação com os policias da esquadra de Palhavã pelo fato deles saberem através dos outros que eu não usava drogas e apenas procurava trabalhar honestamente, embora de forma ilegal, já que a Câmara Municipal de Lisboa, ou melhor, a prefeitura, não cedia licença a nenhum vendedor. Chegava ao ponto de eu ser alertado pelos policias de quando iria haver um operação por parte da policia municipal. Um dia estava passando pelo Rossio em direção a Rua Augusta, quando uma viatura da pólicia parou ao meu lado e de dentro um dos policias exclamou, "Ver se não aparece na rua Augusta hoje pela manhã, vamos fazer uma limpeza, eu sorri e fiz um gesto do tipo, ok, e ia para a costa do castelo.

Câmara Municipal de Lisboa

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    Eu continuava hospedado na pensão Central, depois de ir mim adaptar ao trabalho e ao sistema, cheguei a conclusão que deveria mudar, eu pagava 10 euros por dia, e havia muitas pensões mais baratas, assim mim dizia os colegas da rua. Nesse dia aparece o John acompanhado de um rapaz chamado João, ele não era artista e nem vendedor ambulante, dizia o John que ele era professor de geografia. No fundo eu estava pouco mim linchando se era verdade ou não, de fato ele demonstra um certo nível intelectual e tínhamos boas conversas referentes a história, politica e actualidades, era diferente dos demais. O porem estava no fato de ser um viciado em heroína, assim como o John. Vou adiantando para vocês que ambos neste momento já se encontram mortos, passado 1 ano morreram de overdose.

    O João morava em Algés, era bem próximo de Lisboa, mim disse que havia em Algês uma senhora que alugava quartos e era bem barato, eu iria pagar bem menos. Acabamos apanhando um eléctrico que tratavasse de um bonde, e fomos para Algês falar com essa senhora. Era uma senhora muito simpática gostou de mim de imediato e disse que só havia vaga em um quarto grande que era divido por 5 pessoas, achei aquilo demais, mais o preço era simplesmente baixo, eu iria pagar apenas 50 euros por mês com roupa lavada, limpeza do quarto e as arrumações, tudo estava incluídos. Esse valor equivalia a 10 dias na pensão Central. Para terem uma ideia na pensão eu gastava 300 euros por mês, portanto iria ser uma economia muito grande, em praticamente 2 dias de trabalho eu já tinha o dinheiro para o aluguel.



Ok, mais antes eu queria conhecer as pessoas das quais eu iria dividir o quarto. Se tratava de 2 angolanos e 2 portugueses. Em Portugal eu como disse no inicio, tomei conhecimento de muitos actos de racismo. A senhora da pensão embora muito simpática, mais se relacionava aos angolanos de forma extremamente racista. Um chamava-se, Eduardo e o outro Jóse, ambos trabalhavam na construção civil, ao ser apresentado a eles, mim simpatizei de imediato com eles, porque com o pouco tempo de experiência em Portugal e no meio daquelas pessoa com problemas de drogas que trabalhavam na rua, eu já sabia detectar um possível viciado em drogas, e sabia que um viciado em drogas não encara um trabalho na construção civil, é um trabalho extremamente pesado e a pessoa necessita ter um bom preparo físico e tanto o Eduardo com o José o tinha. Ambos eram trabalhadores natos, e pagavam todos os meses sem nunca atrasar. Enquanto os outros 2 portugueses vim descobrir depois numa noite simplesmente pavorosa que se tratavam de viciados, atrasavam a renda da casa e nunca paravam em trabalho nenhum, no entanto a senhora da casa tinha muito mais respeito por eles do que pelos 2 angolanos. Se referiam ao angolanos como, "Os pretos pá!!
    Quanto a noite pavorosa que tive, ocorreu o seguinte, a 1º semana na casa com apenas os 2 angolanos tudo corria perfeitamente, eles chegavam do trabalho cansados portanto dormiam cedo e não atrapalhava em nada, as vezes eu é que chegava de madrugada depois das minhas farras no bairro alto, mais procurava ter o maior cuidado para não acorda-los. Nessa 1 semana os 2 português estavam fora, mais finalmente e infelizmente chegaram. E chegaram numa noite de madrugada enquanto eu e os angolanos dormíamos.     Acordei com uma cena simplesmente surreal. O quanto era grande e comprido e a cama deles se encontrava no fundo do quarto. Acordei com o sussurros de varias pessoais, as luzes estavam apagadas, mais do fundo do quarto havia a luz de uma vela e em torno dela 5 rapazes, a luz da vela criava uma sombra sobre a parede que parecia um filme de terror. A impressão que tive de inicio é que estavam rezando todos em volta da vela, mais nas mão não tinha uma bíblia e nem um terço e sim, uma seringa, uma colher grande e espremiam um limão para cima dela, estavam preparando a herónia para se injectarem dentro do quarto. E eu comecei a chama-los utilizando daqueles palavrões bem feios demonstrando a minha raiva com relação aquela atitude. Eles acharam estranho porque tinha ouvido falar que eu era amigo do João, portanto para ser amigo do João só poderia fazer parte do mesmo clube de drogados.
    Quanto aos angolanos não gostavam de se meter, mim disseram que já estavam acostumado com aquela cena, mais eu não. Acabei por deixar a casa e fui morar em Lisboa em uma pensão pequena e simples mais muito acolhedora, administrada por um casal de idosos.

Holanda, Amsterdam.

Era impressionante a facilidade com que os jovens conseguiam ganhar dinheiro na rua. Me recordo de um dia está indo para casa, quando um rapaz com um aspecto muito triste, chorando e pedindo pelao o amor de Deus que o ajudasse com qualquer valor, qualquer moeda, estava completamente desesperado porque a mãe estava morrendo de câncer, e ele já não tinha dinheiro para os medicamentos dela para aliviar a dor, e era filho único e eles não tinham mais ninguém. Fiquei sensibilizado com aquela situação que foi profissionalmente muito bem encenada, acabei por dar algum dinheiro a esse rapaz, ele agradeceu e foi embora, passado alguns dias encontro ele conversando com o João, quando me viu foi fugiu, e João é que me disse que ele facturava por mês mais de 3000 euros só mendigando e usando aquela técnica, havia pessoas que passavam cheque por não ter dinheiro o suficiente na carteira, a minha vontade foi de encher ele de pancada era enorme, coitado, também já não está entre nós, já foi para junto do João e do John.

Torre de Belém, Lisboa.

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    Teve um repórter português que fez uma matéria interessante sobre a mendigagem em Portugal. Ele se fez passar por mendigo durante um mês na rua Augusta, preparou todo um cenário de pobreza bastante convincente, ou seja, roupas velhas e propositadamente sujas. Resultado, passado um mês fez uma matéria para o jornal revelando que conseguiu ganhar muito mais como mendigo do que como repórter no jornal. Eu presenciei por diversas vezes pseudo mendigos, sabia onde se encontravam para beber e fazer festas, eu conhecia de vista um cego que tinha uma FZR1000 Yamaha, ou melhor, uma moto topo de gama, e eu que sou apaixonado por motos fiquei delirando quando a vi. Era assim o ambiente em Portugal quando cheguei, evidente que a boa situação económica facilitava esses tipos de vigarisses, as pessoas não questionavam quanto essas possibilidades daqueles pobres coitados estarem mesmo precisando ou naõ de ajuda, apenas queriam se ver livres deles dando-lhes dinheiro e fazendo uma boa ação, como são muito religiosos e acreditam fielmente em Fátima, deviam achar que assim estarião garantindo um lugar no céu, sem saber eles que estavam alimentado uma cultura de drogaos e vigaristas.


    Já passado algumas semanas, quando estava chegando a rua do Carmo pela manhã para trabalhar, havia um francês aparentado os seu 45 a 50 anos que se chamava Patricy Derieux, e acabei por conhece-lo. Ele já era muito conhecido no meio dos vendedores ambulantes e artistas plásticos , era uma pessoa muito reservada, não dava muita conversa ao pessoal, só o estritamente necessário, e tudo indicava que tinha um segredo qualquer assim como a maioria, e que na maioria das vezes não era nada bom.

    Nesse dia eu estava trabalhando ao lado dele, quando mim pediu para passar o olho no material, porque ele iria ficar ausente por mais ou menos 1 hora. Tudo bem eu cuido do material vai tranquilo, passado exactamente 2 hora ele retornou, mim convidou para tomar um copo e ficamos conversando. Ele era parisiense conhecia muito bem paris, depois acabei por confirmar quando fomos visitar a família dele. As historias que ele me contava da sua vida em Paris era alucinante, mim recordo quando ele mim disse que quando jovem trabalhou em um mosteiro em Paris, era responsável por arrumar a igreja fazer as limpezas, e ajudar o padre, ou seja, o famoso coroinha, e tocar os sinos chamando os fieis para a missa, e nesse mosteiro haviam muitos padres e geralmente a noite no jantar muitos deles ia para cama completamente bêbados, o vinho era sagrado, era o sangue de Cristo, e eles gostavam muito de sangue pelo visto.

    Era uma pessoa muito inteligente, mais como a maioria tinha sempre o seu porém, com relação as drogas também as usava só que de forma muito mais controlada e era raxixi.

    Eu já tinha ganho trabalhando na rua um bom dinheiro, já tinha conta no banco e um cartão de credito e já estava querendo deixar Portugal, mais ouvia falar muito do Algarve, diziam os artistas que era um excelente lugar para ganhar dinheiro, acabei indo lá confirmar e era realmente verdade. As praias do Algarve me conquistaram, eu adorava o mar, portanto poder trabalhar próximo dele para me era fantástico, o Patricy foi comigo, o que pintávamos vendíamos.


    O Patricy tinha uma forma de viver incrível e muito curiosa, quando ele ganhava dinheiro fazia questão de gastar frequentando lugares finos e caros, gostava de ostentar, vivia como se fosse morrer para semana, as vezes ficava completamente teso, e eu falava para ele, se não tivesse pago 40 euros em um almoço naquele restaurante tinha dinheiro o suficiente para comer uma semana, mais ele não ligava, eu contestava mais achava interessante aquela filosofia de vida e acabei por alinhar com ele várias vezes nessas doideiras, foi assim que tomei conhecimento dos melhores vinhos franceses, dos melhores scargots da Borgonha, scargots eram caracois e Borgonha uma região de França que os criavam, e que os criadores franceses antes de os preparar deixavam-os 5 dias sem se alimentar, só bebendo agua e comendo ervas aromaticas, uma maravilha da cozinha francesa, embora muitos falam mal dizendo ser mais etiqueta do que comida. Aprendi muitas coisas com o Patricy Derieuxs.

    Durante o dia pintava dezenas de aquarela pequenas tipo as do Alberto Martins, com temas de barcos pesqueiros, fazia dez a quinze imagens diferente depois colocava passpatoo e a noite a partir das 21 horas íamos para a entrada de um túnel que dava para praia com muitos restaurantes em volta e aquilo era uma loucura, as vezes ficávamos menos de 1 hora e vendíamos tudo, era na praias de Albufeira. Eu começava a enfiar dinheiro nos bolsos que as vezes tinha que parar tudo e ir a casa de banho, ou melhor, ao sanitário, esvaziar os bolsos que já estavam abarrotados de notas, aquilo era um sonho. Quando já não havia o que vender eu ia para uma discoteca que havia, o nome era seven-and-haf, e lá me perdia no meio das francesas e das inglesas. Meu período de Algarve foi uma loucura total, até hoje agradeço a Deus de ter saído de lá vivo, o problema dos artistas em Lisboa eram as drogas e o meu eram as mulheres, eu me metia com muitas malucas e tive a sorte de não apanhar nenhuma doença, foi muita sorte.

    A maioria das garotas que frequentam o Algarve no verão, são as inglesa, alemães e francesas, quando chegam depois de um ano trabalhando duro no país delas, chegam ao Algarve com objetivo de extravasar fazer o maior estrago e depois voltar para o seu país, retornar as suas vidinhas monotona e trabalhadoras, é um perigo. Ok , vamos mudar de assunto.


    Quando terminou o verão retornei a Lisboa, comprei uma passagem aérea directo para Salvador Brasil, ia visitar a minha família e chegar de peito levantado como havia previsto, não ia chegar com tanto dinheiro, isso não, pelo fato de ter queimado boa parte dele no Algarve, e com as ostentações que participava com o Patricy, indo comer em restaurantes caros e luxuoso. A próposito, lembram quando conheci o Patricy e ele pediu para eu passar o olho no material dele enquanto ele ia resolver um probleminha durante algumas horas. Pois é, depois dessas aventuras com ele no Algarve, um dia que estava cheio do vinho, e acabou confessando que era casado com uma brasileira de Vitória do Espírito Santo, quando ela estava vindo para Portugal se encontrar com ele foi apanhada no aeroporto com 1 kilo de cocaína, e apanhou 12 anos de prisão, e naquele dia ele tinha ido visita-la por que tinha tentado na prisão se enforcar com um lençol, é mole! quer mais? acreditem, vocês ainda não viram nada! Deixa só eu voltar do Brasil.


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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PARTE 2º. A história de um imigrante brasileiro baiano na Europa. Anildo Motta 2ª PARTE

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    A viagem está muito agradável, passaremos toda a noite atravessando o atlântico, 8 horas de vôo, chegaremos em Lisboa por volta das 7 da manhã. Observo aquelas pessoas em minha volta, todas aparentando um ar feliz e ansioso. Deverá haver nesse meio algumas pessoas que tem o mesmo próposito que eu? Pessoas que estivesse buscando a sua realização profissional e financeira em outro continente? Não tinha a menor dúvida disso, pela maneira de se comportar, pela sua forma acanhada de ser, era muito fácil detectar essas pessoas. Procurar trabalhar e viver fora do seu país, naquela altura era muito comum já que havia uma grande imigração do Brasil para o exterior derivado a crise económica. O interessante é que nessas situações, ninguém sabe nada de ninguém, e nem imagina quem possa ser a pessoa ao seu lado, e passamos 8 horas a viajar juntos, jantamos juntos, e dormimos lado a lado. Fica uma sombra de curiosidade que muitas vezes se desmancha com um simples puxar de conversa, que acaba por quebrar o gelo e tornar a viagem um pouco mais agradável. Algumas delas poderiam está indo curtir umas ferias na Europa, e outras poderiam está imigrando, embora notasse sempre uma necessidade de esconder esses detalhes para poder manter uma certa aparencia turística. Foi o que senti ao puxar conversa com um rapaz que embora alegasse está indo passear na Europa, mais pelo palavreado e a maneira artificial que se comportava tentando dar um ar de importante, mim deixou certo que estava diante de um imigrante. Depois de servirem o jantar estava previsto um filme que já não me recordo qual foi, depois do filme fecharam o serviço apagaram grande parte das luzes do avião para que as pessoas podessem descansar.

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A noite estava linda, eu ficava observando da janela aquele céu estrelado, tão brilhante acompanhado do som desagradável e constante das turbinas do avião, o ar frio e seco do ar-condicionado criava um ambiente artificial e aconchegante. Tentei ainda chatear um pouco a aeromoça pedindo mais uma dose de wisk para ver se funcionaria como sonífero, mais não dei sorte, educadamente disse-me que estava suspenso os serviços. Não consigo dormir bem em uma situações como essas, estou habituado a uma caminha quente e confortável, embora havia pessoas que dormiam feito uma pedra, principalmente o carioca muito "fino" que roncava feito um serrote.

Paris, Catedral de Notridame

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Sei que há pessoas que adoram viajar de avião, se fosse por 1 hora 2 no máximo eu até que concordaria, mais permanecer 8 horas dentro de um avião é extremamente desagradável para mim, não gosto de mim sentir preso e limitado a um espaço e sem levar em conta o facto de estarmos atravessando o oceano atlântico, sempre fazendo pairar a hipótese de acabarmos como comida para peixe.

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Finalmente ouve-se a voz do comissario de vôo, informando que dentro de minuto estaremos aterrisando no aeroporto Portela em Lisboa. Não mim recordo da temperatura anunciada, mais o que sei é que essa temperatura mim surpreendeu. Apanhei a minha bagagem de mão alinhei na fila para deixar o avião e mim dirigi a porta de saída. Ao ser aberta a porta senti de imediato uma brisa fria misturada com diversos aromas de perfumes utilizados pelos passageiros que se encontravam a minha frente.

Ao passar pela porta do avião, senti um frio gelado mim abraçar por completo, e pensei, deve ser bem complicado viver em um ambiente assim, mais vou mim acostumar. Entrei no pequeno ónibus que nos iria conduzir até a porta de desembarque, observava aquele movimento frenético de vai e vem de carros de bagagens , funcionários do aeroporto fazendo o seu trabalho e um agregado de aeromoças e comissários de vôo puxando as suas pequenas malas de rodinhas em direcção a um carro especial para os conduzir a zona de desembarque. Der repente escuto a larga porta do ónibus fechar-se e o motorista engatar a 1º macha pondo o ónibus em movimento, de repente procuro mim segurar a uma barra vertical comum nos ónibus para as pessoas se equilibrarem, e fui obrigado a larga de imediato. Aquela barra estava simplesmente gelada, fiquei apalpando-a até conseguir habituar aquela temperatura, e pensei, tô ferrado. Chegamos a zona de desembarque passei pelo sector de identificação de passaporte mim dirigi a saída a qual encontravas-se um típico português mais parecido com o John wayne que mim fez uma pergunta da qual não entendi nada. Pedi desculpas e que ele repetisse, a pergunta era, " É a 1º vez que vem a Portugal" uma frase simples mais dita por um português naquela altura, parecia "alemão".

Paris.

.Não estava habituado a ouvir pronuncia portuguesa, em Salvador conheci alguns mais já estavam a muito tempo no Brasil falavam evidentemente com o seu típico sotaque, mais não era tão embolado. Já os portugueses nos percebem bem, pelo facto de haver em Portugal sendo transmitido na televisão muitas novelas brasileiras, portanto fica fácil para eles. Disse que sim, e ele com um ar serio e compenetrado, apontou para uma mesa a esquerda que era para fazer o controle sobre as bagagens. Quando chega os vôos da América latina, tem uma recepção bem especial, como se trata de países pobres e com grandes produções e consumo de drogas, saõ seleccionados do grupo de passageiros uma certa parte para ter as suas bagagens vistoriadas em busca de drogas, armas ou qualquer coisa que altere a segurança do país. Fantástico, eu devia ter o aspecto típico de um traficante, mais estava eu estava adorando aquilo tudo. Evidentemente como não havia nada de ilegal, fui autorizado a ir embora. Saindo dessa área a primeira coisa que fiz sem pestanejar, foi correr em direcção aos sanitários, naõ é que tivesse as necessidades físicas que vocês estão imaginando, mais sim para abrir a minha mala e vestir quase tudo que tinha, para ver se esquentava um pouco, porque eu já mim sentia um picolé ambulante.
Depois de sair do sanitário mim dirigi a porta de saída, eram muitos carros chegando outros saindo, um entra e sai de passageiros e bagagens, ou seja, um típico aeroporto de uma grande cidade. Ok! encostei o carrinho que transportava as minhas bagagens a um canto, sentei-me nas bagagens, e ai sim, mim perguntei. Então Anildo o que é que você faz agora? Depois de reflectir um pouco cheguei a conclusão. Me dirigi a um taxista e perguntei como se chamava o centro de cidade e gostaria que mim conduzisse até lá. Imediatamente ele respondeu. "Rossio". Curioso é que hoje em dia acho tão simples o nome e a pronuncia e naquele dia parecia tão complicado. Finalmente fui conduzido ao centro da cidade. Ao chegar no Rossio, fiquei maravilhado com a beleza da praça, o movimento frenético das pessoas de um lado para o outro, os pombos voando para o telhado dos prédios, uma fumaça esquisita que saia de uma espécie de caixa a qual uma senhora retirava algumas coisas de dentro, acabei por descobrir que eram as famosas castanhas muito típicas em Portugal e que são vendidas quentes e acabadas por fazer para esquentar um pouco as pessoas, o cheiro era muito agradável.

Paris.

.Depois de circular pela as ruas do Rossio, vi a uns 15 metros de distancia em uma rua sem saída uma pensão, Pensão Central que foi onde mim dirigi para saber o preço da diária. Ao chegar a portaria um senhor gordo e bigodudo, ou seja, tipicamente português mim recebeu de forma séria e desinteressada. Os Lisboetas não costumam ser muito simpáticos, ou seja, quem vai a portugal e conhece só Lisboa, fica com uma imagem nada agradável do povo português pelo fato dos lisboetas estarem sempre chateados com alguma coisa mais se vocês vão ao norte é uma diferença enorme, lembro-me quando cheguei a primeira vez na linda cidade do Porto, perguntei a um empregado de mesa do restaurante se estávamos mesmo em Portugal. Uma coisa que todos os brasileiros notam quando chegam em Portugal é que as pessoas quando se encontram na rua e perguntam uma a outra se está tudo bem, a resposta é sempre, " mais ou menos" ou "vai-se andando" ou então " Há , como Deus quer  é que nunca dizem, tá tudo óptimo  ou tá tudo bem, ou fantástico, e como costumamos dizer no Brasil, "Tá óptimo  se melhorar estraga" Para eles as coisas nunca estão bem, quando estou na rua reparo que as pessoas depois de se cumprimentarem com o mais ou menos, quando começam a conversar o assunto é, ou problemas de saúde  ou falta de dinheiro, problemas familiares ou seja, eles só vêem a vida mais pelo lado negativo, é impressionante. A velha maneira de ser do brasileiro sorridente e brincalhão podem está passando fome, "mais tá tudo beleza" não são bem entendidos por eles, mais depois fui conhecendo e cheguei a conclusão que é a maneira natural deles, mais no fundo acabava por se revela uma pessoa alegre e amiga, o problema é que são desconfiados e até não conhecer bem a pessoa eles mantenhe sempre uma distancia.

Portugal Lisboa, Ponte Salazar


Mais notei que o Brasil era muito bem publicitado aqui. Na altura que cheguei era Carnaval no Brasil e a televisão portuguesa transmitia em directo o Carnaval ,e eles adoravam ver as brasileira com aqueles biquínis dançando no sambodromo. Quando eu parava para ver algumas imagens do Carnaval alguns hospedes da pensão aproveitavam para fazer perguntas a respeito do Brasil.
Depois de hospedado fui dar um passeio pelas ruas e ver se encontrava alguns artistas para que eu pudesse mim entrosar. Ao sair da pensão depois de andar uns 400 metros entrei em uma rua chamada, rua do Carmo, foi quando avistei um rapaz sentado em uma pequena cadeira com uma placa sobre os joelhos desenhando algo, quando mim aproximei descobri que se tratava de um artista pintando uma aguarela, do seu lado direito encontravas-se uma placa medindo aproximadamente 1 metro por 2 de largura onde ele colava alguns de seus trabalhos já realizados. Foi a 1º vez na minha vida que vi uma pessoa pintando aquarelas, não conhecia essa técnica a não ser pelas musicas do Toquinho e Vinicius de Morais. A Aquarela não é taõ difundida no Brasil, geralmente os artistas brasileiros preferem mais a pintura a óleo, exactamente a técnica que desenvolvi. Aquela pintura parecia tão simples, tão suave, embora o artista não tinha assim tanto talento, avaliando o trabalho em termos artísticos era muito fraco, o que mim deslumbrava era a técnica a aquarela tão simples e aparentemente fácil de trabalhar.

Portugal, Lisboa.

.O nome dele era Paulo, era gordo baixinho e tinha um ar meio "Onde estou!!", mais era um cara simpático, perguntei para ele se vivia só daquele trabalho e se era possível ganhar algum dinheiro. Ele mim disse que sim, que preferia está ali pintando as suas aquarelas do que está trabalhando para um patrão. Perguntei se era necessário alguma licença para está trabalhando ali, e ele respondeu com um ar despreocupado, que não tinha licença e também não era necessário, só de vez em quando é que a policia resolvia incomodar, mais nem sempre. Resumindo precisava sim.
Continuei o meu passeio e entrei em uma loja de materiais de pintura, fiquei maravilhado, era uma loja grande que havia de tudo com relação as artes plásticas, pesquisei e comprei algumas aquarelas para dar inicio a essa nova técnica.
Durante o meu passeio observava a forma de vida daquela gente bem vestidas e apressadas,, as mulheres usavam botas altas, casacos de pele, cachicou no pescoço, luvas, e toda aquela parafernalia necessária para se fugir do frio. Me recordo que chegava altura que o frio era tanto, que ao passar por uma pessoa, o vento criando pelo movimento dos corpos passando um pelo outro, era o suficiente para criar um vento gelado que penetrava na roupa e chegava aos ossos. Agora imaginem quando estávamos para atravessar a rua e passava um ónibus, o vento gelado que criava mim dava a impressão que eu ia congelar e que não iria dar mais nem um paço. O baianinho acostumado a 35 a 45 graus de temperatura, tava mesmo ferrado.
Os preços das coisa eram sempre altos, nem se quer me passava pela cabeça comprar alguma coisa que não fosse extremamente necessária, encontrava casacos fantásticos que mim faziam balança, mais esperava primeiro ganhar os primeiros escudos para poder comprar algumas coisas.
Havia uma rua paralela a rua Augusta, chamava-se rua da prata, onde se encontrava muitas tavernas e restaurantes, havia uma taverna que eu gostava de frequentar ia as vezes ia lá tomar uma cervejinha e ficava observando os portugueses que lá frequentavam. Eram gordos, falavam alto e não paravam de beber vinho. Uma taça de vinho em Portugal chegava a ser mais barato do que uma garrafa de água  um hábito que é derivado ao frio, hábito esse que acabei por adquirir também. Eles bebiam demais, nessas tavernas que eram frequentadas por uma grande maioria das pessoas que trabalhavam na rua Augusta, vendedores ambulantes e funcionários de lojas, era um ambiente engraçado, o curioso é que diante de de tanto vinho, risadas exageradamente altas derivado ao vinho, nunca se presenciava nenhum sinal de briga ou violência, bem diferente do Brasil, que geralmente nessas situações algumas pessoas tem a tendência de lembrar do que não devia, como por exemplo, "Você andou se metendo com a minha mulher?" pronto, tá feito.

Vinhos região do Douro


Retornei a rua Augusta para ver se encontrava o Paulo e convida-lo para tomar um copo, o que era muito comum, quando dois portugueses se encontram a primeira coisa a dizer é: Vamos tomar um copo! Atenção, temos que levar em conta o ambiente em que estou inserido, ou seja, povão. Embora nas classes dita elevadas também é mesma coisa.Chegando a Rua Augusta la estava o Paulo sentado pintando as suas aquarelas e conversando com um outro rapaz que acabei por conhecer. Era um brasileiro também artista que trabalhava na rua vendendo as suas obras, era uma peça simplesmente do outro mundo. O nome dele era Roberto, era também baiano e já morava em Portugal a mais de 10 anos, um tipo extremamente conversador e contador de historias, quando digo contador de historias, quero dizer com isso que era um grande mentiroso, mais era uma boa pessoa, ele tinha uma necessidade mórbida de contar mentiras, contar vantagens, mais só fui descobrir isso passado algum tempo, evidente a mentira tem pernas curtas e com o tempo acaba por se revelar.

Portugal, Porto.

.Mais com todas as manias nos dávamos muito bem, o fato de sermos da mesma região nos tornava como irmão assim dizia ele, e com o Roberto foram muitas idas a taverna tomar um copo. Eu não estava habituado a beber tanto, no Brasil a nossa bebidinha é uma cervejinha não dá para ficar doidão, mais em Portugal era vinho, muito vinho e eu tomava cuidado para não perder o rumo.

Me recordo nesse dia a noite o Roberto mim convidou para ir tomar um copo em uma taverna que um amigo dele trabalhava, ok, vamos lá disse eu, depois de ter conhecido vários colegas dele na rua, todos verdadeiro alcolatras e viciados, incrível eu nunca tinha conhecido, nem mim relacionado com pessoas que consumia drogas pesadas e em Portugal passei a conhece-los e testemunhar as loucura que a droga era capa de fazer, usavam drogas drogas pesadas, a famosa heroína. No Brasil eu já tinha ouvido falar mais como disse nunca tinha presenciado o consumo dela e os efeitos. Uma coisa boa que o Roberto tinha é que não usava drogas o negócio dele era só a bebida. Esse amigo dele que trabalhava na taverna que ele queria que eu conhecesse mim surpreendeu pelo fato de ser uma pessoa normal, ou seja não consumia drogas, era trabalhador e demonstrava ser uma pessoa inteligente, e também era brasileiro, de Goiania.

Na taverna e como sempre alguns copos e depois, fomos almoçar numa taverna baratinha em que a comida era muito boa, pelo menos para mim como era novidade a gastronomia portuguesa, tudo tornavas-se interessante. Me impressionava a quantidade de batas fritas que eles comem, associadas ao vinho ao pão e a sobremesa, era um festival de carboidratos que explica porque são tão fortes.

Já no fim da noite eles mim levaram para uma actividade a nível "cultural", ou seja, conhecer um famoso bar chamado Pirata, esse bar era especializado em duas bebidas as quais os donos não revelavam de como era feita, mais era muito boa, uma das bebidas era o" pirata" o mesmo nome da casa e a outra perna de pau. Chegando ao bar encontramos um outro amigo dele chamavas-se tô. O tô era conhecido em toda rua Augusta pelo fato de ter ganho um prémio do guinness book, ela trabalhava também na rua fazendo de "estátua" Ou seja, pintava o rosto todo de branco para dar um ar de estátua, vestia uma roupa extravagante e subia em um pequeno banco, antes colocava um aparelho se som tocando musicas do Pink Floyd o que dava um ar meio transcendental, meio pirado. Ele ganhou um prémio do guines por consegui bater o recorde de imobilidade, ficou varias horas sem se mexer fazendo-se de estátua, já não mim recordo quantas horas, mais foi o suficiente para bater o recorde mundial, era conhecido como " O homem estátua". Durante essa noite ouvia varias estorias do Tô e do Roberto, desde conflitos com skins reds na Alemanha, como centenas de viagem pela Europa trabalhando como estátua, depois de passado algum tempo acabei por chegar também a conclusão que o Tô era também um grande Loroteiro, ou seja, aquela necessidade mórbida de inventar histórias das quais eles saiam sempre como herói, era muito comum naquele meio, mais era curtida aquela atmosfera. O que sei é que chegou a hora de voltar para a pensão e eu já estava completamente tonto por "causa do perna de pau" aquela bebidinha mim apanhou de jeito, então mim despedi deles e parti em direçaõ a pensão, a minha sorte é que era perto porque no estado em que eu estava, se fosse muito longe acabava ficando no caminho.

Paris, Torre Eiffel

Quando cheguei a pensão, ainda bem que o velho não mim viu passar porque se visse ia ficar coma ideia de que eu era um bêbado incorrigível  O que sei é que tombei na cama e dormi feito uma pedra, apaguei com toda a roupa que usava quando cheguei da rua, acho que tinha até esquecido o frio.Ok, mais amanhã será um novo dia e vou começar o meu trabalho, coisa que eu estava ansioso por fazer.

Acordei pela manhã com o frio que mim gelava os pés, pelo visto o tal do "perna de pau" a bebida secreta do português que não revelava a ninguém de que aquilo era feito, era realmente boa. Acordei inteirinho, ou seja, sem aquelas típicas dores de cabeça resultado de uma noite de abusos. Fui escovar os dentes e lavar o rosto e mesmo com os usuais aquecedores para a água, ou seja "esquentadores" como chamam lá, a agua no inicio assustava com a sua temperatura, tomar banho pela manhã para mim não mim atreveria, seria uma batalha que não estava afim de travar naquele momento, portanto só seria a noite.

Fui para a rua curioso de como seria o resultado em termos de vendas, e pensei vou colocar o meu material ao lado do Paulo, assim teria alguém para conversar e quebraria um pouco a minha timidez pelo fato de nunca ter feito isso antes, em Salvador trabalhava e zonas fechadas, em galerias e shopping center, e aqui em Portugal estava indo trabalhar na rua o que no Brasil chamamos vulgarmente de "Camelôs". Mais não mim incomodava muito essa ideia porque o ambiente era completamente diferente, com exceção dos drogados artistas que ia para rua com o único propósito de fazer dinheiro para manter o consumo.

Havia um outro artista chamado "John" que chegava todos os dias pela manhã cantando e dançando e no inicio eu pensava, olha ai, finalmente um português sorridente e animado, demonstrando felicidade e bom humor. Depois é que fui descobrir que era viciado na heroína e quando chegava todas as manhãs tão contente era porque já tinha recebido o incentivo da heroína. Era muito fácil para esse pessoal ganhar dinheiro na rua vendendo as suas pinturas, as pessoas compravam e era possível viver ganhando um bom dinheiro simplesmente desta maneira, ou seja, sendo um "Camelô". Portanto o pessoal da droga que sabiam pintar alguma coisa convincente, ganhavam dinheiro para manter o vicio e levar uma vida tranquila, embora a vida de um drogado não seja nada tranquila quanto mais ganhavam, mais drogas consumiam.

Itália. Piazza San Marco.


Ok, nesse dia cheguei na rua, coloquei as minhas telas ao lado do Paulo e mim pus a exercer a minha nova modalidade de vendas. As minhas telas eram grandes e consequentemente o preço também  para vocês terem uma ideia o preço que eu pedia por uma tela, era uma media de 100 a 150 euros, isso equivalia no Brasil a 1 salário mínimo e meio, por se tratar de uma técnica realmente cara o óleo sobre tela, e eu não queria baixar o preço para não desvalorizar o trabalho. Estabeleci o valor em euros, mais vale apena salientar que na altura era o escudo. As pessoas adoraram as pinturas, os drogados ficaram doidos e acabei por ganhar o respeito deles como um artista de verdade, já que até antes de verem os meus trabalhos acreditavam que eu era apenas mais um querendo se armar em artista. As pessoas perguntavam o preço constantemente mais achavam caro, muitos diziam que esse tipo de trabalho não era para a rua, que eu deveria procurar algumas galerias de arte. Realmente acabei de chegar também a essa conclusão  de que para se vender bem na rua tinha que ser algo barato e simples.

O Roberto tinha uma espécie de pintura interessante, era um estilo meio abstracto feito sobre papel brilhante e que fazia uns efeitos estilizados e quanto ao preço, eram baratos, ele vendia cada pintura sobre o papel a uma média de 20 a 30 euros. Era uma técnica em que em menos de uma hora ele conseguia fazer um quadro, portanto podia jogar com os preços e estava sempre ganhando. Para vocês terão uma ideia a hora de trabalho de um garçon ou empregado de mesa como dizem a qui, era de mais ou menos entre 3.50 a 4.00 euros por dia, ou seja, o Roberto ganhava mais por hora do que um empregado normal e não tinha que trabalhar feito escravo 8 a 12 horas por dia, tanto ele quantos os outros.



Resultado de tudo isso é que no fim do dia eu não tinha vendido nenhum trabalho, como havia dito derivado ao alto preço embora tenha aparecido muitas pessoas interessadas. Mais resolvi seguir o conselho daquelas pessoas que diziam que aquele tipo de trabalho não era para rua e sim para galerias, então resolvi ir a procura de galerias de arte para apresentar o meu trabalho e tentar entrar no circuito artístico português.


Destas pessoas que conheci na rua e elogiaram o meu trabalho, ouve um rapaz que chegou a mim falar sobre algumas galerias que conhecia e que acreditava que se eu fosse lá provavelmente venderia alguns trabalhos. Então foi o que fiz. Numa manhã peguei todas as minhas telas e o meu book e mim dirigi a uma destas galerias que funcionava para o lado do Saldanha em Lisboa. Eram galeria de luxo habituadas a trabalhar com artistas nominados, era muita ingenuidade minha achar que chegaria assim em Portugal e em muito pouco tempo estaria entrando no circuito europeu de arte e iria trabalhar com uma destas galerias. Mais na altura não pensei assim, fui directo a galeria contactar um dos donos. Sim um dos dono já que essa galeria pertencia a duas pessoas.

Ao chegar apresentei-me disse que era artista plástico e tinha alguns trabalhos que gostaria que eles vissem, neste momento só havia um dos donos. Um rapaz aparentando uns 30 anos, sério e não dando muita credibilidade aos meus trabalhos antes de os verem. Sim antes de os verem, porque depois que viu ficou encantado e ligou par o sócio que estava a alguns quarteirões. Então com uma boa parte das minhas telas espalhadas no chão da galeria ficava esse rapaz analizando-as. Vocês devem imaginar com é que eu transportaria tantas telas que no total eram 22 das melhores que havia. Essa telas não possuíam os aros de madeira, ou seja, o suporte que vem por trás para mante-las esticada. Eu tirei todas do suporte porque caso contrário seria impossível transporta-la. Tinha todas enroladas em forma de tubos que facilitava mais o transporte.

Finalmente chegou o sócio do rapaz, também se tratava de um homem na casa dos 35 a 40 anos. Olhou para todas aquelas tela, analisou cada uma de uma forma bem profissional. A maioria das telas eram pinturas no estilo surrealista, estilo esse que eu gostava muito de pintar, usava como tema as mulheres, dando um ar surrealista a atmosfera. O rapaz olhou todo o material elogiou e disse-me que infelizmente não estava interessado naqueles trabalhos por se tratar de uma técnica que não condizia com o estilo da galeria, que se eu pintasse alguma tela dentro do estilo da galeria ele comprava. Ora, eu com todas aquelas telas deixar de lado para satisfazer aquele cara, pintando um estilo que para mim não mim dizia nada, nem pensar. Eu não estava disposto a iniciar o meu trabalho pintado um estilo que eu achava ridículo, só pelo fato daquela galeria trabalhar só com aquele estilo. Não, agradeci ao rapaz e fui embora, tentei mais umas 2 ou 3 naquela área e a resposta foi semelhante. Ou queria que eu mudasse de estilo, ou o dono da loja mal queria mim receber por não se tratar de um artista famoso, ou tinha que marcar um horário pelo fato do dono não se encontrar na loja.

Bem desisti desse local e fui fazer uma outra tentativa no Casino Estoril, na linha de Cascais, ou seja muito atrevimento como tinha dito antes, tentar entrar no mundo das artes em Portugal assim de forma tão fácil. Me dirigi ao Casino, ao chegar a porta da galeria fui imediatamente interpelado pelo segurança que ao ver aquele rapaz novo com aquelas coisas enroladas debaixo dos braços e com pinta de imigrante perguntou o que eu desejava. Eu sabia o nome do proprietário da loja que uma das pessoas que tinha conversado na rua comigo mim falou, portanto o segurança mandou eu entrar e foi chamar o proprietário  Fiquei um bom tempo a espera, aproveitei para conhecer os trabalhos exposto na galeria. Era uma galeria luxuosa, muito espaçosa e que também possuía um estilo de pintura que não tinha nada a ver comigo. Passado uma meia hora chega o proprietário  um senhor aparentando ter os seu 45 a 50 anos, gordo com um ar muito sério que mim olhou de cima para baixo e que mim fez sentir de imediato que as coisas não iriam sair bem. levava comigo também o meu álbum de fotografia, era um algum grande tamanho A3 e que continha muitas fotografias de trabalhos e das exposições realizadas em Salvador. Ele passou uma vista muito rápida no álbum, mais depois de ver as fotos e os diplomas e prémio que lá constava ficou um pouco mais simpático.

O resultado foi que deixei o Estoril sem vender nada e sem convite nenhum para exposições. Então resolvi no outro dia voltar para a rua e procurar pintar outra coisa bem mais comercial e que pudesse vender por um preço bem barato. A zona do Estoril era muito bonita, fui até lá de Comboio, ou seja de trem, comboio é a a expressão portuguesa para trem. Foi a primeira vez que tinha andado de trem, já que no Brasil não é tão comum transporte ferroviário e o pouco que conhecia no Brasil desse tipo de tranporte, não tinha nada a ver com os trens usado na Europa. Eram trens confortáveis e muito agradável viajar nele. A viagem era em parte toda feita a beira mar, uma visão muito bonita, passei pela área de Belém onde fica a torre e o Mosteiro, era um espetaculo.



A noite pintei algumas aquarelas, não tinha pratica nenhuma naquilo, não conhecia a técnica e tratava as aquarelas como se fosse tinta óleo. A aquarela tem que ser trabalhada usando bastante agua e pouca tinta para que fique com um efeito bem aguado criando primeiro manchas para depois na 2º fase procurar finalizar com tons mais escuros e brilhantes, estou a mim referir a pinturas de paisagens embora no geral é assim que se deve pintar com aquarela. O tema que utilizava para pintar era o utilizado pelo Paulo e pela maioria dos artista em Lisboa que se tratava da "Alfama". A Alfama é um bairro antigo de Lisboa que serve de inspiração para os artistas, pintores, músicos e poetas. É um bairro interessante, muitas casas antigas, tascas para todo o lado, ouvia-se fado onde quer que se entre e no alto da Alfama se encontra o Castelo se São Jorge, formidável, a vista do Castelo para Lisboa é magnifica, pelo fato de ser a parte mais alta de Lisboa, evidentemente naquela época para lutar contra aos invasores Mouros,construiam os castelos nas partes mais altas para poder ter uma visão maior da cidade e naquela época também da floresta e poder detectar a aproximação do inimigo. O cheiro de sardinha assada toma conta das ruas da Alfama, é tradição deles comer sardinhas, beber vinho e usar o pão como guardanapo e depois comer. Na Alfama tínhamos a impressão que voltávamos no tempo, aquelas pessoa com um ar e aspecto de que saíram de um filme de há 200 anos atrás, mais era mágico tudo aquilo. Bem voltando para a pintura em aquarela, o Roberto e o John eram os únicos que não pintavam aquarelas, ambos tinha a mesma técnica que era aquele trabalho abstracto pintado com tinta acrílica sobre papel. Conheci também um português chamado Alberto Martins, o cara na aquarela era realmente bom, fazia trabalhos formidáveis e o mais impressionante é que pintava aquarelas em papeis do tamanho de um cartão postal, nesse pequeno espaço pintava umas ruas da Alfama, também alguns barcos típicos do sul de Portugal, o Algarve, que era aterra dele e é a principal zona turística de Portugal, vale a pena conhecer. E ele vendia as suas aquarelas com uma facilidade fantástica, ganhava muito dinheiro, o Alberto Martins era um exemplo de artista equilibrado, não fumava não bebia apenas pintava as suas pequenas aquarelas que as vendia por uma média de 5 a 8 euros as tamanho postal e as outras no tamanho de uma folha A4 já era bem mais caro chegava a pedir entre 20 a 40 euros. Mais também tinha uma pacada doida, de 15 em 15 minutos de conversa, de repente corria para o café em busca da casa de banho, devia ter um problema qualquer na prostata, mais dizia sempre que era normal, era sinal de boa saúde. E eu balançava a cabeça positivamente para não o contrariar.

Lisboa Castelo de São Jorge.


Como havia dito no inicio, o preço da hora de trabalho em Portugal numa profissão simples como, garçon, empregado em uma loja, funcionários de empresas era uma média de 3.50 euros a hora, trabalhando pelo menos 8 horas por dia ou seja, 28 euros por dia. Esse era um excelente salário na época. Fazíamos esse valor facilmente por dia trabalhando apenas algumas horas. O Alberto Martins com as sua aquarelas em tamanho postal as vezes não ficava nem 1 hora na rua vendendo, em pouco tempo vendia todas as suas aquarelas.

Havia uma rua em Lisboa em que era uma verdadeira mina, se conseguíssemos ficar pelo menos uma hora trabalhando sem ser importunado pela policia ganhávamos o dia rapidamente, havia um forte movimento de pessoas, pelo fato de haver muitos bancos e lojas, só bastava encostar uma placa de 1 metro por 2 em um canto com algumas aquarelas exposta e logo paravam pessoas e compravam tudo.

Voltando a falar nesse Alberto, era uma figura interessante, o fato de fugir por completo do típico português que gosta de se embebedar, o Alberto não, também não usava droga, dávamos muito bem pelo fato dele saber que eu também não alinhava nessas coisa. Mais depois acabei por saber que o fato dele ter esse estilo comportadozinho foi devido a um problema de sáude que teve que quase o levou para o andar de cima, ou seja, quase morreu, a partir dai passou a adoptar esse estilo de vida, era vegetariano e cheguei a ir com ele algumas vezes almoçar nesses restaurantes especializados em comida vegetariana, era interessante, era só para fugir a rotina, como se em um mundo desse que eu estava inserido existisse rotina.

Bem como havia dito antes, preparei as aquarelinhas a noite e pela manhã fui estreiar na rua do Carmo, não fui a rua Augusta pelo fato de não ter experiência nenhuma de venda na rua e também de nunca ter sido abordado por policias, aquilo para mim fazia confusão, portanto fui para onde se encontrava o Paulo o Roberto e o John.
Lisboa, Rio Tejo.


Ao chegar naquela manhã, o frio era grande e as pessoas corriam de um lado para outro cheias de pressa e totalmente concentradas em suas vidas. Iria ser a primeira vez na minha vida que iria trabalhar dessa maneira, vendendo na rua como "Camelô" estava um pouco sem graça mais ao olhar as pessoas em volta era tudo tão natural, ninguém estava preocupado em observar a vida dos outros e ai fiquei mais tranquilo e fui perdendo a vergonha. Abri um plástico no chão assim como fazia o Roberto e coloquei as minhas aquarelas, passado pouco tempo vendi uma, fiquei mesmo feliz com aquilo e fui mim animando mais.

No final do dia, sendo a primeira vez, sem conhecer a técnica da aquarela e fazendo um trabalho que precisava muito melhorar, e eu sabia disso e sabia que era questão de tempo muito pouco tempo, tinha conseguido ganhar cerca de 30 euros, um dia de trabalho extremamente bem pago para um trabalhador normal e tudo isso trabalhando para mim mesmo, sentado em uma rua fantástica vendo as pessoas passarem e estando o tempo todo na conversa, aprendendo coisas, e procurando conhecer esse sistema, essa pessoas de cultura tão diferente, foi magnifico, aquilo para mim foi como um "Seja bem vindo" eu adorei Portugal ao chegar, e agora descubro que posso ficar e ganhar o meu dinheiro trabalhando para mim mesmo e fazendo o que gosto, mesmo que seja na rua como Camelô, eu estava realizado e feliz e via em minha frente não uma luz no fim do túnel, mais via o túnel todo iluminado.

Nesse dia depois do trabalho, ou seja seja depois do comercio fechar fui almoçar em bom restaurante sozinho, queria apenas a minha companhia, não mim recordo o que comi mais era algo bem português certamente, pedi um bom vinho e fiquei fazendo uma retrospectiva de tudo que havia passado e cheguei a conclusão que estava em um excelente ritmo, e se eu procurasse manter passado mais uns meses iria ao Brasil visitar a minha família. Carregava uma pochet presa a cintura onde ficava os meus documentos e dinheiro e dentro dela estava a minha passagem. Passagem de volta para o Brasil que eu pensava em caso as coisas corressem mal, iria usa-la e voltar para a minha família. Simplesmente, raguei-a, simplesmente cortei-a em vários pedaços e disse para mim mesmo, você não vai voltar ao Brasil dentro de 2 meses, você vai ficar e fazer aqui a sua vida. Foi magnifico, pensei que fosse ser tudo mais difícil ao chegar a Portugal, e agora vejo que sou capaz de mim manter sozinho, ganhar o meu dinheiro, pagar as minhas contas e curtir, curtir bastante, por que a Europa está a minha espera, e ai vou eu!

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